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FRATERNIDADE ROSACRUZ in LUSITANIA Lusitano Centro Rosacruz Max Heindel Autorizado por The Rosicrucian Fellowship Rua de Cedofeita, 455 1º sala 8 * 4050-181 PORTO
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INTRODUÇÃO O texto deste e-book, foi escrito por INICIADOS ROSACRUZES e publicado
discretamente há 35 anos com o título de «Cartas Rosacruzes» e
compreende sete capítulos, cada um deles correspondendo a uma carta.
As cartas VI e VII foram extraídas das cartas RECEBIDAS por Karl von Eckartshausen, em Munich, cerca do ano de 1792. O aspirante à iniciação deve ler uma carta diariamente e, ao fim de sete dias, voltar à primeira lição (1ª carta), repetindo a leitura atenta e meditativa nas semanas seguintes. Depois de certo tempo e esforço, o aspirante verá despertar em si os poderes espirituais. Converte-se então, num iniciado e passará a ter acesso à verdadeira sabedoria: o conhecimento esotérico que lhe permitirá utilizar a chave dos mistérios da Vida e do Ser. Carta I Sabedoria
Divina Não tentes estudar a mais elevada de todas as ciências se, de antemão, não
resolvestes entrar na via da virtude; os incapazes de sentir a verdade não
compreenderão minhas palavras. Só os que entram no reino de Deus podem
compreender os mistérios divinos e aprender a verdade e sabedoria, na
medida da sua capacidade para receber a luz divina da verdade. Aqueles
que se guiam unicamente pela luz da inteligência não compreendem os
mistérios divinos da natureza; as suas almas não podem ouvir as
palavras que a luz pronuncia. Mas aquele que abandona o próprio eu
pessoal pode conhecer a verdade. A verdade só pode ser conhecida na
região do bem absoluto. Tudo que existe é produto da atividade do espírito.
É a mais elevada de todas as ciências a que permite ao homem aprender
a conhecer o laço de união entre a inteligência espiritual e as
formas corpóreas. Entre o espírito e a matéria não existem linhas de
separação porque entre os extremos, se encontram todas as gradações
possíveis. Deus é fogo que irradia puríssima luz. Esta luz é vida. As gradações
entre a Luz e as Trevas estão para além da compreensão humana. Quanto
mais nos aproximamos do centro da Luz tanto maior é a energia que
recebemos e tanto mais poder e actividade resultam. É destino do homem
elevar-se até ao centro espiritual da Luz. O homem primordial era um
filho da Luz. Permanecia em estado de perfeição espiritual bem mais
elevada do que no presente; dela desceu a um estado mais material,
tomando uma forma corpórea e rude. Para volver à sua primeira condição
tem de percorrer o caminho por onde desceu. Cada um dos seres animados deste mundo obtém sua vida e sua actividade do
poder do espírito. Os elementos grosseiros estão regidos pelos mais
subtis e estes por outros de maior subtileza, até chegarmos no poder
puramente espiritual e divino. Deste modo, Deus influi em tudo e tudo
governa. O homem possui um germe do poder divino que pode desenvolver-se
e transformar-se em árvore de frutos maravilhosos. A expansão deste
germe só pode fazer-se pelo calor que irradia do centro flamígero do
grande sol espiritual. Quanto mais nos aproximamos desta luz, mais
recebemos o seu calor. Do centro, ou causa suprema original, irradiam
continuamente poderes activos que se infundem nas formas oriundas da sua
actividade eterna. Destas formas revertem novamente a causa primeira,
dando lugar a uma cadeia ininterrupta de actividade, luz e vida. O homem,
ao abandonar a radiante esfera de luz, incapacitou-se para contemplar o
pensamento, a actividade e a vontade do Infinito em sua unidade. Daí resulta que, na actualidade, tão só percebe a imagem de Deus numa
multiplicidade de imagens. Contempla Deus sob um número de aspectos
quase infinito, mas Deus permanece sempre Uno. Todas essas imagens devem
recordar-lhe a exaltada situação que outrora manteve e para cuja
reconquista devem tender todos os seus esforços. Se não se esforçar
por elevar-se a maior altura espiritual, irá sumindo-se cada vez mais
na sensualidade e, depois, ser-lhe-á muito mais difícil voltar ao
primeiro estado. Durante a vida terrestre estamos rodeados de perigos e é bem pequeno o
nosso poder de defesa. Os corpos materiais nos encadeiam ao reino do
sensível e mil tentações nos assaltam todos os dias. Sem a reacção
do espírito a natureza animal afundaria o homem na sensualidade.
Todavia, este contacto com o sensível é necessário: proporciona a força
que o faz progredir. O poder da vontade o eleva; e aquele que identifica
a sua vontade com a vontade de Deus pode, durante a vida na terra,
chegar à espiritualidade que lhe concede a contemplação e compreensão
da sua unidade no reino da inteligência. Tal homem pode realizar o que
quiser porque, unido com o Deus Universal, todos os poderes da natureza
são seus poderes e nele se manifestarão a harmonia e a unidade do Todo.
Então, vivendo no eterno, não está sujeito às condições do espaço
e do tempo, participa do poder de Deus sobre todos os elementos e
poderes do mundo visível e invisível e tem a consciência do eterno. - Dirige todos os teus esforços no cultivo da tenra planta da virtude que
cresce em teu seio. Purifica tua vontade e não permitas que as ilusões
dos sentidos te alucinem. A cada passo que deres na senda da vida eterna,
encontrarás um ar mais puro, uma vida nova, uma luz mais clara e, em
proporção à ascensão para o alto, aumentará o teu horizonte mental. A
inteligência, só por si, não conduz à sabedoria. O espírito conhece
tudo e, no entanto, nenhum homem o conhece. Sem Deus, a inteligência
enlouquece, adora-se a si, repele a influência do Espírito Santo.
Quanto é decepcionante e enganosa a inteligência sem a espiritualidade.
Em pouco tempo perecerá. O espírito é causa de tudo; a luz da mais
brilhante inteligência deixará de brilhar se for abandonada pelos
raios de vida do sol espiritual. Para compreender os segredos da
sabedoria não basta teorizar, é necessário alcançar sabedoria. Só o
que se conduz sabiamente realmente é sábio, ainda que não tenha
recebido a menor instrução intelectual. Para ver
necessitamos de olhos e para ouvir, de ouvidos. Similarmente, para
atingir as coisas do espírito, precisamos de percepção espiritual. É
o espírito e não a inteligência que dá vida a todas as coisas, desde
o Anjo Planetário até ao mais pequeno ser do fundo do oceano. A influência
espiritual vem de cima para baixo e nunca de baixo para cima; por outros
termos, irradia do centro para a periferia e nunca em sentido contrário.
Isto explica por que a inteligência, produto ou efeito da luz do espírito
que brilha na matéria, não pode nunca se sobrepor à luz do espírito. A
inteligência humana só pode compreender as verdades espirituais quando
a sua consciência entra no reino da luz espiritual. É uma verdade que
a grande maioria dos intelectuais não quer compreender. Não podendo
elevar-se a um estado superior ao intelectual, consideram tudo que está
fora de seu alcance como fantasia e sonho ilusório. Sua compreensão é obscura e no coração abrigam as paixões que os
impedem de contemplar a luz da verdade. O que ajuíza a partir dos
sentidos externos não pode compreender as verdades espirituais. Preso
ao ilusório, ao eu pessoal, repete as verdades espirituais que lhe
destroem a personalidade. O instinto e o eu inferior levam-no a
considerar-se um ser distinto do Deus universal. O conhecimento da
verdade desfaz essa ilusão, razão porque o homem sensual odeia a
verdade. O homem espiritual é filho da luz. O homem regenerado retorna
ao seu primeiro estado de perfeição e essa regeneração, que o põe
acima dos outros seres do universo, depende do apagamento das
obscuridades que velam sua natureza interna. O homem, por assim dizer, é um fogo concentrado no interior de uma casca material e rude. O seu destino é abrasar neste fogo a natureza animal, os materiais grosseiros, e unir-se de novo com o flamígero centro, do qual é uma centelha durante a vida terrestre. Se a consciência e a atividade do homem continuamente se concentram nas coisas externas, a luz que irradia da centelha, no interior do coração, vai enfraquecendo a pouco e pouco e acaba por desaparecer. Mas, se o fogo interno é cultivado e alimentado, destrói os elementos grosseiros, atrai outros mais etéricos, faz o homem cada vez mais espiritual e concede-lhe poderes divinos. Não só expande a actividade interna, mas também aumenta a receptividade às influências puras e divinas. Purifica e nobilita por completo a constituição do homem e converte-o, finalmente, no verdadeiro senhor da criação. Carta II Um Meio Prático de Aproximação à Luz Quem,
gratificando os desejos sensuais, tenta encher o vazio da sua alma, não
o conseguirá nunca. Tampouco os anelos de verdade poderão ser
satisfeitos pela aplicação da inteligência às coisas externas. O
homem não pode entrar na paz enquanto não vencer o que é incompatível
com seu Ego divino. Para consegui-la, deve aproximar-se da luz,
obedecendo à lei da luz. O desejo sensual e do externo deve desaparecer
e dirigir sua visão espiritual para a luz a fim de afastar as nuvens
que a eclipsam. Primeiramente, deve ter consciência da existência, em
seu íntimo, de um germe divino. Nele deve concentrar a vontade e, à
sua luz, cumprir estritamente todos os deveres, interna e externamente. Existe
uma lei oculta, mencionada com frequência em escritos esotéricos, que
só raros compreendem. Diz que todo o inferior tem a sua contraparte
superior e, assim, ao agir o inferior, o superior reage sobre ele.
Segundo esta lei, todo o desejo, pensamento, aspiração boa ou má, é
seguido imediatamente de uma reacção que procede do alto. Quanto mais
pura é a vontade do homem, quanto menos adulterada por desejos egoístas,
tanto mais enérgica é a reacção divina. O
progresso espiritual do homem não depende, de modo nenhum, dos esforços
sobre si próprio. Pelo contrário, quanto menos tentar estabelecer leis
por si mesmo, quanto mais se submeta à lei universal, tanto mais rápidos
são os seus progressos. Aliás, o homem não pode dirigir sua vontade
em sentido diverso da Vontade Universal de Deus. Se o fizer, se não a
identificar com a vontade divina, pervertem-se e aniquilam-se os seus
efeitos. Só quando a vontade se harmoniza e coopera com a Vontade de
Deus se torna poderosa e efectiva. Demais, em todos os tempos, têm
existido entidades espirituais que se comunicam com o homem para
transmitir o conhecimento das verdades espirituais, ou para
refrescar-lhe a memória quando em perigo de olvida-las, a fim de
restabelecer um laço de forte união entre o homem intelectual e o
homem divino. Os que tem certo grau de pureza podem, mesmo nesta vida,
entrar em comunhão com esses mensageiros celestiais; poucos são, porém,
os que podem consegui-lo. Seja como
for, é a vontade e não a inteligência que deve ser purificada e
regenerada. Portanto, a melhor das instruções é inútil se não
houver vontade de pô-la em prática. E como ninguém pode salvar-se sem
vontade de salvação, o desejo mais íntimo do coração deve ser o de
conhecer e praticar a verdade. O homem de recta vontade alcançará o
saber e a verdadeira Fé sem necessidade de sinais externos ou de razões
lógicas que o convençam da verdade daquilo que sabe ser certo. Provas,
somente as pede o sábio pretensioso. De coração vaidoso, de vontade
fraca, sem conhecimento espiritual nem fé, nada mais pode saber além
do que lhe vem pelos sentidos. Mas as mentes puras e sinceras adquirem a
consciência das verdades em que intuitivamente creram. Todas as
ciências culminam num ponto: quem conhece o uno conhece tudo e o que
julga conhecer muitas coisas é um iludido. Quanto mais te aproximares
deste ponto, quanto mais íntima for tua união com Deus, tanto mais
clara será tua percepção da verdade. Se a tal ponto chegares, acharás
coisas, na natureza, que transcendem a imaginação dos filósofos e com
as quais os cientistas nem sonham. Toda a
vida está em Deus. O que parece viver fora de Deus é simplesmente ilusão.
Se desejarmos conhecer a verdade, devemos conhece-la à luz de Deus e não
à luz falsa e enganadora da especulação intelectual. A união com a
luz é o único caminho para chegar ao conhecimento perfeito da verdade.
Como são bem poucos os que conhecem esta senda. O mundo
zomba e ri dos que por ela caminham, porque não conhece a verdade, está
cheio de ilusões, cego ante a sua luz. O primeiro sinal de que desponta
a aurora da sabedoria é calar-nos e permanecermos tranquilos, impassíveis,
ante o riso dos néscios, o desprezo dos ignorantes, o desdém dos
orgulhosos. Uma vez conhecida, a verdade será capaz de resistir ao
escrutínio intelectual mais severo e aos ataques da lógica mais
potente. Podem ser abaladas e transtornadas as inteligências dos que,
pressentindo a verdade, não a conhecem, mas os que sabem e a
compreendem, permanecem firmes como rocha. Enquanto buscarmos a
gratificação dos sentidos ou a satisfação da curiosidade, não
encontraremos a verdade. Para encontra-la temos de entrar no reino de
Deus. Então, descerá sobre a nossa inteligência. Para
alcançá-la não é preciso que torturemos o corpo ou que arruinemos os
nervos. É indispensável crer em certas verdades fundamentais,
intuitivamente percebidas por todo aquele que não tem a inteligência
pervertida. Tais verdades fundamentais são: a existência de um Deus
universal, origem de todo o bem e a imortalidade da alma humana.
Possuindo o homem faculdade de raciocínio, tem o direito e o dever de
usá-la, mas nunca em oposição à lei do bem, à lei do amor divino,
à lei da ordem e da harmonia. Não deve profanar os naturais dons que
Deus lhe deu; antes, deve considerar todas as coisas como dons divinos,
a si mesmo como um templo vivente de Deus e, seu corpo, como um
instrumento para manifestação do divino poder. Um homem
separado de Deus é coisa inconcebível posto que a natureza inteira é
simples manifestação de Deus. Se a luz do sol nos ilumina não é por
obra nossa, é porque procede do sol; se nos ocultarmos do sol a luz
desaparece. Assim
também, Deus é o sol do espírito; devemos permanecer iluminados por
seus raios, gozar do seu influxo e exortar os outros a entrar na Luz. Não
existe mal nenhum em procurar conhecer esta luz intelectualmente se para
tal a vontade se dirige. Contudo,
se a vontade for atraída por uma luz falsa, tomada pela do sol, sem dúvida
cairemos em erro. Existe
uma relação definida e exacta entre todas as coisas e sua causa. Mesmo
nesta vida, pode o homem chegar ao conhecimento dessas relações e
aprender a conhecer-se. O mundo em que vivemos é um mundo de fenómenos
ilusórios. Tudo o que se toma por real, assim parece enquanto
duram certas condições ou relações entre aquele que percebe e o
objecto de sua percepção. O que percebemos não depende tanto das
coisas em si quanto das condições do próprio organismo. Se a nossa
organização fosse diferente, cada coisa seria percebida sob um aspecto
também diferente. Quando aprendemos integralmente esta verdade e
discernimos o real do ilusório, podemos entrar no reino da sublime ciência,
assistidos pela luz do espírito divino. Os mistérios desta
transcendental ciência, que abraça todos os mistérios da natureza, são
os seguintes: 1.° - O
reino interno da natureza; 2.° - o
laço que une o mundo interno do Espírito com as formas; 3.° - as
relações que existem entre o homem e os seres invisíveis; 4.° - os
poderes ocultos no homem por meio dos quais pode agir no reino interno. — Se,
de coração puro, desejas a verdade, encontrá-la-ás. Mas, se tuas
intenções são egoístas, afasta estas cartas. Não serás capaz de
compreende-las nem te prestarão o menor benefício. Os mistérios
da natureza são sagrados. O malvado não os pode compreender. Se,
todavia, conseguir descobri-los, sua luz converter-se-á em fogo
consumidor de sua alma e o aniquilará. Carta III Verdade Absoluta e Relativa Toda a ciência
do mundo se funda na hipótese de que as coisas são como parecem ser.
Contudo, pouco é preciso pensar para compreender o erro da suposição,
visto que a aparência das coisas não depende somente do que são em si,
mas também de nossa própria organização, da constituição de nossas
faculdades perceptivas. O maior obstáculo
que, no caminho do progresso, encontra o estudante das ciências ocultas,
é a crença errónea de que as coisas são o que parecem ser. A menos
que possa sobrepor-se a este erro e considerar as coisas não sob o mero
ponto de vista de sua limitada pessoa, mas relativamente ao Infinito e
ao Absoluto, não poderá conhecer a absoluta verdade. Antes de
prosseguir nas instruções sobre o modo prático de te aproximares da
luz, será necessário que radiques, com toda a energia, em tua mente,
que todos os fenômenos são ilusórios. O que o homem conhece do mundo
externo chegou à sua consciência através dos sentidos. Comparando,
umas com as outras, as impressões repetidamente recebidas, e tomando o
resultado, o que julga conhecer, corno base de especulação sobre o que
não conhece, pode formar certas opiniões sobre causas que transcendam
o seu poder de percepção sensitiva. Tais juízos serão válidos para
si e para aqueles que tenham idêntica estruturação. Para os demais
seres, que tenham organização por completo diferente da sua, esses
argumentos e especulações lógicos não têm nenhum valor. É de
esperar que possam existir no universo inca1culáveis milhões de seres
de organização superior ou inferior a nossa, mas completamente
distinta, que percebam as coisas sob aspectos muito diferentes.
Semelhantes seres, ainda que vivam neste mundo podem, contudo, nada
conhecer dele, para nós o único concebível. Podemos, também, nada
saber, intelectualmente, acerca do seu mundo, apesar de ser uno e idêntico
com o nosso. Para
compreender o seu mundo, necessitamos de suficiente energia que arroje
todos os erros e preocupações herdadas e adquiridas. Devemos
elevar-nos a um nível superior ao do eu inferior, ainda preso ao mundo
sensorial por milhares de cadeias, e atingir mentalmente o lugar onde
possamos contemplar o mundo sob um aspecto superior. Devemos morrer, por
assim dizer, ou antes, devemos viver inconscientes da nossa existência
pessoa1, até podermos adquirir a consciência da vida superior e olhar
ao mundo sob o ângulo de visão de um Deus. A ciência
moderna é somente conhecimento relativo, o que equivale a dizer que os
nossos sistemas científicos ensinam unicamente as relações existentes
entre as cousas externas e mutáveis e esta outra cousa, transitória e
ilusória, a pessoa humana, mera aparência externa de uma actividade
interna completamente desconhecida da ciência académica. Os tão
louvados e enaltecidos conhecimentos científicos são pura
superficialidade, referem-se, tão-só, a alguns dos infinitos aspectos
da manifestação divina. A ignorância, ainda que ilustrada, julgando
ser a sua maneira especial de considerar o mundo dos fenómenos a única
verdadeira, agarra-se desesperadamente a essas ilusões que toma por únicas
realidades. Aos que distinguem as ilusões qualifica-os de sonhadores. Enquanto a
ciência se mantiver presa destas ilusões, não se elevará acima delas,
continuará sendo ilusória e incapaz de transmitir o verdadeiro carácter
da natureza. Em vão pedirá provas da existência de Deus enquanto
cerrar os olhos à Eterna Luz. Entenda-se, todavia, que não estamos
pedindo à ciência moderna para colocar-se no plano, do Absoluto porque,
neste caso, deixaria de ser relativa para as coisas externas e não
teria valor algum. Admitiu-se
que as cores não são realidades por si mesmas, mas produto de certo número
de ondulações da luz, o que não impede a fabricação das cores e o
seu útil emprego. Análogos
argumentos são aplicáveis às demais utilizações da ciência.
Obviamente, não se pretende opô-los aos trabalhos de investigação da
ciência, mas instruir aqueles que não encontrem satisfação no meio
conhecimento superficial e externo e, se é possível, moderar a presunção
dos que crêem saber tudo e, escravos de suas ilusões, negam a existência
do Eterno e do Real. Não é o
corpo físico que vê, ouve, respira, raciocina e pensa. É o homem
interno, invisível, que o realiza por meio dos órgãos corporais. Não
existe nenhuma razão para crer que o homem interno cessa de existir
quando o corpo morre; pelo contrário, como adiante veremos, supor tal
coisa seria insensatez. Sem dúvida,
se o homem interno, pela morte do organismo físico, perde o poder de
receber impressões sensíveis do mundo externo e, perdendo o cérebro,
perde o poder de pensar, certamente mudarão por completo as relações
condicionadoras da sua permanência no mundo. Consequentemente as condições
da sua nova existência serão totalmente distintas. Seu mundo não será
o nosso mundo, considerando, todavia, que, no sentido absoluto da
palavra, não há senão um só mundo. Vemos,
portanto, que pode coexistir com o nosso mundo um milhão de mundos
diferentes, desde que exista um milhão de seres de constituições
diferentes uma das outras. Por outras palavras, a natureza é uma só e
pode manifestar-se sob infinito número de aspectos. A cada uma das
mudanças de nossa organização, observamos o mundo através de um
prisma distinto. Ao morrer, entramos num mundo novo, notando que não é
o mundo que muda, mas as nossas relações com ele. Que sabe o
mundo sobre a verdade absoluta? E nós, que realmente sabemos? Sol, lua,
terra, fogo, ar, água, só os consideramos existentes em consequência
de certo estado de nossa consciência que nos leva a crer que existem. A
verdade absoluta não existe no reino dos fenómenos. Nem sequer nas
matemáticas a encontramos, porque todas as suas regras e princípios
estão fundados em certas hipóteses respeitantes à grandeza e à
extensão, já, por si, de carácter fenoménico. Mudem-se os conceitos
fundamentais das matemáticas e o sistema inteiro será modificado. Do mesmo
modo pode-se conceituar quanto à matéria, ao movimento e ao espaço.
Tais palavras somente exprimem conceitos, formados sobre cousas inconcebíveis,
dependentes do nosso estado de consciência. Se olharmos
a uma árvore, forma-se uma imagem em nossa mente, o que equivale a
dizer que entramos em certo estado de consciência que nos relaciona com
um fenómeno de cuja inteira natureza nada sabemos, ao qual damos o nome
de árvore. Para um ser organizado de modo distinto, talvez a nossa árvore
seja inteiramente diferente, quiçá transparente e sem solidez
material. E, assim, para milhares de seres diferentes, isto é, de
constituições diversas umas das outras, parecerá ter outros tantos
aspectos distintos. O sol, outro exemplo, pode ser considerado
simplesmente como uma bola de fogo. Mas um ser de compreensão superior
poderá ver nele alguma coisa para nós indescritível, por carecermos
das faculdades precisas para tal concepção e descrição. O homem
externo guarda certa relação com o mundo externo e, como tal, nada
mais pode conhecer do mundo do que esta relação externa. Algumas
pessoas podem objectar que o homem deve contentar-se com aqueles
conhecimentos e não tentar aprofundá-los. Isso equivaleria a privá-lo
de todo o progresso ulterior e condená-lo a permanecer preso da ignorância
e do erro. A ciência
que depende de ilusões externas é uma ciência ilusória. O aspecto
externo das coisas é produto da actividade interior. Se esta actividade
não for conhecida, o fenómeno externo não poderá ser compreendido. O
homem real, interno, residente na forma externa, mantém certas relações
com a actividade interna do Cosmos não menos estritas e definidas do
que as relações existentes entre o homem interno e a natureza externa.
Se o homem não conhecer as relações que o ligam àquele poder interno,
por outras palavras, que o ligam a Deus, não compreenderá a própria
natureza divina e não atingirá, jamais, o verdadeiro conhecimento de
si mesmo. O único e
verdadeiro objectivo da verdadeira religião e da verdadeira ciência
deve ser ensinar ao homem a relação entre si e o infinito todo e a
elevar-se àquele exaltado plano de existência para o qual foi criado. Pelo falo de
um homem ter nascido em certa casa ou em certa cidade, não se conclui
que tenha de permanecer ali toda a vida. Do mesmo modo, certa condição
física, moral e intelectual não impõe a necessidade de ficar sempre
em tal estado, nem que não faça nenhum esforço por elevar-se a
maiores alturas. A mais sabida de todas as ciências tem por finalidade
o mais elevado de todos os conhecimentos. Não pode existir objectivo
mais sublime nem mais digno de ser conhecido que a causa universal do
bem. Deus é o objectivo mais elevado dos conhecimentos humanos; nada
podemos saber Dele, fora da Sua manifestação activa em nós próprios.
0bter o conhecimento do eu equivale a obter o conhecimento do princípio
divino que habita em nós ou, por outras palavras, o conhecimento do próprio
eu depois que ascendeu ao divino. O eu interno
e divino reconhecerá, por assim dizer, as relações existentes entre
si e o princípio divino no universo, se permitido é falar de relações
entre duas coisas que não são duas, mas uma só e idêntica. Mais
correctamente deveríamos dizer: o conhecimento espiritual, no homem,
realiza-se quando Deus nele expressa sua própria divindade. Todo poder,
quer pertença ao corpo, à alma ou ao princípio inteligente, nasce do
centro, do espírito. Ver, sentir, ouvir e perceber são capacidades dos
sentidos que o homem deve à actividade espiritual. Na maior parte dos
homens, despertou somente a potência intelectual que pôs em actividade
os sentidos. Mas, há pessoas excepcionais que desenvolveram esta
actividade espiritual em grau muito maior e expandiram
extraordinariamente suas faculdades internas de percepção. Tais
pessoas podem perceber realidades imperceptíveis para os demais e por
em exercício poderes que os restantes mortais não possuem. Se os
pretensos sábios encontram pessoas dessa natureza, geralmente
consideram-nas enfermas de corpo, vítimas de uma condição patológica. Todos os
dias a experiência demonstra que a ciência do exterior, da superfície,
ignora quase inteiramente as leis fundamentais da natureza, porque, contínua
e equivocadamente, toma as causas por efeitos e os efeitos por causas. Com igual
razão e a mesma lógica se, num rebanho de carneiros, um obtivesse a
faculdade de falar como homem, poderiam os restantes considerar o
companheiro enfermo e ocupar-se de sua condição patológica. A
sabedoria parece loucura para o louco. Para o cego a luz não se
distingue das trevas. Para o vicioso a virtude é como o vício e o
falso diz que a verdade não vale mais que o embuste. Vemos, pois, que o homem percebe as
cousas pelo que imagina e não pelo que são. Assim, tudo
a que chamam bom ou mau, verdadeiro ou falso, útil ou inútil, tem
sentido relativo. E a conceituação difere, ainda, de um para outro, de
acordo com as distintas opiniões, objectivos ou aspirações. Consequência:
onde começa a linguagem nasce a confusão, porque diferem as constituições
humanas, donde resulta, em cada um, uma concepção das cousas distinta
das concepções dos outros. Isto é
verdadeiro já nos assuntos comuns, mas evidencia-se muito mais nas
questões de ocultismo, do qual os homens comuns só possuem ideias
falsas. Não será aventuroso dizer que o simples enunciado de uiva
sentença de natureza oculta daria origem a disputas e a interpretações
falsas. As únicas
verdades que se encontram fora de toda disputa são as verdades
absolutas. Não precisam ser enunciadas porque são evidentes por si
mesmas. Expressá-las pela linguagem equivale a dizer o que todo o mundo
sabe e ninguém põe em dúvida. Dizer, por
exemplo, que Deus é a causa de todo o bem equivale, simplesmente, a
simbolizar a origem desconhecida de todo bem com a palavra Deus. A
verdade relativa respeita unicamente às personalidades transitórias
dos homens. Só pode
conhecer a Verdade no Absoluto aquele que, sobrepondo-se à esfera do eu
e do fenómeno, chega ao Real, eterno e imutável. Fazer isto é, em
certo sentido, morrer para o mundo; o que é o mesmo que se desembaraçar
por completo da noção do eu pessoal e ilusório e chegar a ser um com
o Universal, onde não existe o mínimo sentido de separação. Se estiveres disposto a morrer assim,
podes penetrar no Santuário da Ciência Oculta. Porém, se
as ilusões do mundo, sobretudo a ilusão de tua existência pessoal, te
atraem, buscarás em vão o conhecimento do que existe por si e
independente de qualquer relação com coisas: — é o eterno centro
flamígero, o Pai, do qual só pode aproximar-se o Filho, a Luz, a Vida
e a Verdade Supremas. Carta IV A Doutrina Secreta Em seus fundamentos a Doutrina Secreta, fonte dos mais
profundos mistérios do Universo, é tão simples que pode ser
compreendida por um menino. Por ter esta simplicidade, dela desdenham os
que suspiram pela complexidade e pelas ilusões. "Ama a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo", o conhecimento prático desta verdade é tudo que se requer para entrar no
templo onde se adquire a sabedoria divina. Não poderemos conhecer a causa de todo bem se não nos
aproximarmos dela; e não poderemos aproximar-nos dela se a não amarmos
e se não formos, por amor, atraídos para ela. Não podemos amá-la sem
que a sintamos e não podemos senti-la sem que exista em nós. Para amar o bem precisamos ser bons. Para, sobre todas as
coisas, amar o bem, deve o sentimento da verdade, da justiça, da
harmonia, sobrepujar e absorver os outros sentimentos. Devemos deixar de
viver no âmbito do eu pessoal, que é o mal, e começar a viver no
divino da humanidade como num todo. Devemos amar o que é divino, tanto
na humanidade como dentro de nós mesmos. Se alcançarmos este estado
supremo, de esquecimento do nosso ego intelectual e animal e de união
com deus, não haverá na terra ou nos céus, nenhum segredo inacessível. Conhecer Deus, o que é? É o conhecimento do bem e do
mal. Deus é a causa de todo bem e o bem é a origem do mal. O mal é a
reacção do bem, no mesmo sentido em que as trevas são a reacção da
luz. O fogo divino de que procede a luz não é causa da obscuridade,
mas a luz que irradia do centro flamígero não pode chegar a manifestar-se
sem a presença das trevas. Sem a presença da luz as trevas seriam
desconhecidas. Por conseguinte, há dois princípios: o do bem e o do
mal, partindo ambos da mesma raiz, destituída de mal. Nesta raiz só
existe o inconcebível bem absoluto. O homem é um produto da manifestação
do princípio do bem e unicamente no bem pode encontrar a felicidade,
visto que a condição necessária de felicidade para cada ser é viver
no âmbito a que a sua natureza pertença. Os que nascem no bem são felizes no bem, os que nascem
para o mal nada mais desejam que o mal. Os que nascem na luz buscarão a
luz, os que pertencem às trevas buscam as trevas. Sendo o homem um
filho da luz, não será feliz enquanto em sua natureza existir um resquício
de trevas. 0 homem não encontrará a paz enquanto albergar no íntimo
uma pequena mancha do mal. A alma do homem é como um jardim onde se lançou um número
infinito de sementes. Destas sementes podem surgir belas plantas e
plantas disformes. O calor necessário para o seu crescimento vem do
fogo que se chama vontade. Se a vontade é boa, desenvolverá plantas
belas, se é má, plantas disformes. Logo, a finalidade principal da
existência do homem na terra é a purificação da vontade, cultivando-a
para que se converta numa potência espiritual. O único meio para
purificar a vontade é a acção. Para consegui-lo, as acções têm de
ser boas até que o agir bem seja mera questão de hábito. E o hábito
se estabelece quando na vontade não haja mais desejo de agir mal. Que proveito terias em conhecer intelectualmente os mistérios
da Trindade e o poder falar brilhantemente sobre os atributos do Logos,
se no altar do teu coração não ardesse o fogo do amor divino e, nesse
templo não brilhasse a luz do Cristo? Se tua inteligência for
abandonada pelo espírito, o dador da vida, desvanecer-se-á, perecerá,
a não ser que a chama do amor espiritual arda em teu coração com a
luz da consciência eterna. Se não estás na posse do amor do bem, mais te vale
permanecer sumido na ignorância; assim, pecarás ignorantemente e não
serás responsável por teus actos. Mas aqueles que conhecem a verdade e
a desprezam por má vontade, sofrerão; cometeram pecado contra a
verdade santa e espiritual. O Rosacruz, em cujo coração arde o fogo do
amor divino, está iluminado e inspirado por esse fogo e, por causa do
mesmo amor, pratica acções nobres. Não necessita de mestre mortal
algum que lhe ensine a verdade porque, penetrado do espírito de
sabedoria, este é o seu Mestre verdadeiro. Todas as ciências e artes mundanas são mínimas e pueris
ante a excelência desta sabedoria divina. A posse do saber do mundo não
confere valor permanente, mas a da sabedoria divina é um valor eterno.
Não pode existir sabedoria divina sem o amor divino. A sabedoria divina
é a união do saber espiritual com o amor espiritual, de que resulta o
poder espiritual. Aquele que não conhece o amor divino não conhece a
Deus. Deus é amor fonte e o centro flamígero do amor. Por isso, foi
dito que, ainda que penetrássemos todos os mistérios, fizéssemos boas
obras mas não possuíssemos o amor divino, nada disso nos aproveitaria.
Pelo amor é que se pode conquistar a imortalidade. Que é o amor? 0 amor é um poder universal que procede do
Centro donde surgiu e se expandiu o Universo. No reino elementar, o amor
age à maneira de força cega, chamada força de atracção. No reino
vegetal, obtém os rudimentos dos instintos que, no reino animal, tem
completo desenvolvimento. Finalmente, no reino hominal, converte-se em
paixão; esta, ou o impelirá para a fonte divina donde brotou ou, se
for pervertida, conduzi-lo-á à destruição. No reino espiritual, o do
homem regenerado, o amor se transforma em poder espiritual, consciente e
vivo. Para a maior parte dos homens o amor não é mais do que um
sentimento. O amor verdadeiramente divino e poderoso é quase
desconhecido da humanidade. O sentimento superficial a que chamam amor
é um elemento semi-animal, fraco, impotente, e todavia suficiente para
guiar ou extraviar os homens. Podemos amar ou deixar de amar uma coisa,
mas o amor superficial não penetra senão os extractos superficiais do
objecto amado. A posse do amor divino não depende de escolha é um dom
do espírito que reside no interior, é um produto da evolução
espiritual e só os que a esta chegam podem possuí-lo. Não é possível
alguém conhecer este amor se não alcança a consciência divina, mas o
que a atinge sabe que é um poder que penetra tudo, brota do centro do
coração e, tocando o coração do ente amado, atrai os germes do amor
ali contidos. A este amor espiritual chama, se te parece melhor, luz
espiritual, pois é tudo isso e muito mais. Todos os poderes espirituais
brotam de um centro eterno e ascendem à maneira do vértice duma pirâmide
de muitos lados. A este ponto, a este poder, a este centro, a esta luz,
a esta vida, a este Todo, chamamos deus, a causa de todo o bem. Esta
palavra é um mero vocábulo sem significação para aqueles que o não
entendem; aliás, nem sequer podem conceber seu significado porque não
sentem nem conhecem a Deus em seus corações. Como poderemos obter este poder espiritual de amor, de boa
vontade, de luz e de vida eterna? Não podemos amar uma coisa sem que
saibamos que é boa; não podemos conhecer se uma coisa é boa ou má
sem senti-la; não podemos senti-la sem que nos aproximemos dela e não
podemos aproximar-nos se a não amamos. Assim, giraríamos, eternamente
em círculo vicioso, sem nos acercarmos jamais da eterna verdade que, do
centro do coração humano lança seus raios e, instintiva e
inconscientemente transforma o movimento circular em movimento espiral,
se a Luz da Graça não conduzisse os homens para aquele centro, mau
grado as próprias inclinações. Tem sido dito que a inclinação do homem para o mal é
mais forte do que para o bem. Indubitavelmente, isto é certo; no estado
presente de sua evolução as actividades e tendências animais são
muito fortes. Os princípios espirituais mais elevados não se
desenvolveram suficientemente para dar-lhe consciência de si. Contudo,
se as inclinações animais são mais fortes que seus poderes
espirituais, a luz eterna e divina que o atrai para o centro é muito
poderosa. Se resiste ao poder do amor divino e prefere dirigir-se ao
mal, não deixará, contudo, de ser atraído, contínua e
inconscientemente, para o centro do amor. Portanto, ainda que, em certo
grau, seja vítima indefesa de poderes invisíveis, na medida em que faz
uso de sua razão é, de certa maneira, um agente livre, livre
relativamente, visto que só poderá ser completamente livre quando sua
razão for perfeita. A razão tornar-se-á perfeita quando vibrar uníssona
e harmoniosamente com a razão divina e universal. Portanto, o homem só
pode ser livre se obedecer à lei. Só pode existir uma Razão Suprema, uma Lei Suprema, uma
Sabedoria Suprema, noutros termos, UM DEUS. A palavra Deus significa o
ponto culminante de tudo que é físico e espiritual. Significa o Centro
único donde procedem todas as coisas, todas as actividades, todos os
atributos, faculdades, funções e princípios que, por fim, ao mesmo
Centro voltarão. O homem pode esperar a concretização de sua aspiração
quando agir em harmonia com a lei universal. A teoria universalmente
aceita da sobrevivência dos mais aptos e a verdade absoluta de que o
forte suplantará o fraco, são tão certas no reino animal como no
reino espiritual. Uma gota de água não pode, por si, correr em sentido
contrário ao da corrente de que participa. É o homem, em toda a sua
vaidade e pretensão de sabedoria, mais do que uma gota de água no
oceano da vida universal? Para obedecer à lei precisamos aprender a conhecê-la.
Mas, como pode alguém conhecer a lei pura e distingui-la da adulterada,
a não ser no estudo da natureza espiritual, em seus aspectos internos e
externos? Só um Livro existe que o aspirante ocultista precisa conhecer,
livro em que se acha contida toda a Doutrina Secreta, com todos os mistérios
conhecidos unicamente pelos iniciados. Tal livro nunca foi modificado ou
erroneamente traduzido, nunca foi objecto de fraudes piedosas nem de
interpretações absurdas. Está ao alcance de todos, tanto dos mais
favorecidos de riquezas como dos mais pobres. Todos podem compreender
sua linguagem, sem distinção de idioma ou de nacionalidade. Seu título
é M, que significa "O Macrocosmos e o Microcosmos reunidos em um
volume". Para bem compreende-lo, importa lê-lo com os olhos da
inteligência e com os do espírito. Se penetrarmos nas suas páginas só
com a luz do cérebro, fria como a luz da lua, as páginas parecerão
mortas e ensinarão somente o que está impresso numa superfície. Mas,
se a luz divina do amor irradia do coração, iluminará as páginas os
sete selos que fecham os capítulos romper-se-ão, um após outro, serão
erguidos os véus que os cobrem e conheceremos os mistérios divinos que
jazem no santuário da Natureza. Sem esta luz divina do amor ó inútil tentar penetrar no
desconhecido, onde permanecem os mais profundos mistérios. o que
estudam a natureza com a mera luz dos sentidos nada mais conhecerão do
que uma máscara exterior. Em vão podem esperar que lhe ensinem os mistérios.
Unicamente com a luz do espírito poderão ser compreendidos, razão de
se dizer que a luz brilhou nas trevas e as trevas não a compreenderam. A luz do espírito somente se encontra no íntimo. O homem
só pode conhecer o que existe dentro de si; não pode ver nem ouvir nem
perceber nenhuma coisa externa; só contempla as imagens e experimenta
as sensações que, em sua consciência, produzem os objectos exteriores.
O que ao homem pertence é um resumo, uma imagem do universo. Ele é o
Microcosmos da Natureza, nele se acha em germe, mais ou menos
desenvolvido, tudo quanto a natureza contém. Nele residem Deus, Cristo
e o Espírito Santo. Nele vivem a Trindade, os elementos dos reinos
vegetal, animal e espiritual; ele contém o Inferno e o Céu e o Purgatório:
— tudo está nele porque é a imagem de Deus e Deus é a causa de tudo
que existe. Nada existe que não seja manifestação de Deus e de que se
não possa dizer, em certo sentido, que seja Deus ou a substância de
Deus. O Universo é a manifestarão daquela Causa ou Poder
interno a que os homens chamam Deus. Para estudar as manifestações
desse poder, temos que estudar as impressões que produz em nosso íntimo.
Nada se pode conhecer fora do que existe em nós. O estudo da natureza não
é, nem pode ser, nada mais do que o estudo do eu, ou, por outras
palavras, o estudo das impressões internas a que as causas externas
deram lugar. Positivamente, o homem não pode, de maneira nenhuma,
conhecer nada, a não ser o que vê, sente ou percebe na intimidade do
seu ser; todos os conhecimentos sobre as coisas são meras especulações
e suposições; podemos chamar-lhes verdades relativas. Consequentemente, se não lhe é possível conhecer algo
sobre as coisas fenoménicas senão quando as veja, sinta ou perceba em
si, como é possível saber das coisas internas que não sejam
manifestadas em seu íntimo? Todos os que buscam um Deus no mundo
externo, em vez de procura-lo em seus corações, em vão o procuram.
Todos os que adoram um rei desconhecido na criação, enquanto fazem por
abafar um rei recém-nascido em seus corações, adoram uma ilusão.
Se aspiramos conhecer a Deus e obter a Sabedoria divina, devemos estudar
a actividade do Divino Princípio em nossos corações. Devemos
escutar-lhe a voz com o ouvido da inteligência e ler as suas palavras
com a luz do divino amor, porque o único Deus que o homem pode conhecer
é o seu próprio Deus pessoal, uno com o Deus do Universo. Por outro
modo dizendo, Deus universal entra cm relação com o homem e alcança
personalidade por meio do organismo a que chamamos homem. É assim que
Deus se faz homem e o homem se transforma em Deus. Mas tal transformação
efectua-se apenas quando obtém o conhecimento perfeito do divino Ego ou,
em termos diferentes, quando Deus se faz consciente de si mesmo e alcança
no homem ciência de si mesmo. Portanto, não pode haver sabedoria divina nem
conhecimento do próprio Eu Divino senão depois que, encontrando o Eu
Divino, o homem se faz sábio. Não sejam os especuladores da ciência e
da teologia tão presumidos para dizer que encontraram o próprio Divino
Ego. Se o tivessem encontrado estariam na posse de poderes divinos,
desses que possuem os homens "sobrenaturais", quase
desconhecidos entre a humanidade. Se os homens encontrassem seus Divinos
Egos, não precisariam de pregadores, nem de doutores, nem de mais
livros, nem de outras instruções que as mutuadas do seu Deus interno.
Porém, a sabedoria dos nossos sábios não é sabedoria de Deus,
procede de livros, de fontes externas e falíveis. Convém saber que o
sentimento do Ego ao qual os homens chamam seu próprio "eu",
não é o do Ego Divino mas o do Ego animal ou intelectual em que sua
consciência se concentra. Cada homem tem um grande e variado número
destes egos ou eus. Deverão perecer e desaparecer todos, antes que o Eu
Divino, universal e omnipresente, possa vivificar a existência do homem.
Ai dos homens se conhecessem seus próprios eus animais e semi-animais!
A aparição enchê-lo-ia de horror. As qualidades predominantes na
maioria dos homens são a inveja, a cobiça, o sibaritismo, a ambição,
etc.. Estes os poderes ou deuses que governam os homens. A eles se
aferram com amor e carinho como se fossem seus próprios eus. Tais egos,
em cada alma de homem, assumem a forma que corresponde ao seu carácter
(cada carácter corresponde a uma forma, produz uma forma). Estes eus
ilusórios carecem de vida própria, alimentam-se do princípio da vida
em cada homem, vivem graças à sua vontade e dissolvem-se com a vida do
corpo ou pouco depois. Imortal, que existiu c existirá para sempre, é
unicamente o Espírito Divino. No homem, os elementos perfeitos e puros,
unidos ao espírito divino, continuarão vivendo. Este Ego Divino não experimenta o sentimento de separação
que tanto domina nossos eus inferiores; como o espaço, não estabelece
distinção entre si e os demais seres humanos; vê-se e a si mesmo se
reconhece em todos os outros seres. Porém, vivendo e sentindo com os
outros seres, não morre com eles porque, sendo já perfeito, não
requer transformações. Este é o Deus ou Brahma, somente reconhecível
pelo que se tornou divino. É o Cristo, jamais compreendido pelo que
leva em sua fronte o sinal da Besta, o AntiCristo, símbolo do
intelectualismo sem espiritualidade ou da ciência sem amor divino. Só
pode ser conhecido pelo poder da fé verdadeira, essa espiritual
sabedoria que penetra até ao centro ardente do amor existente no coração
do Uno. Este centro do Amor, da Vida c da Luz é a origem de todos os
poderes. Nele se contêm todos os germes e mistérios, fonte da revelação
divina. Se encontrares a luz que irradia daquele centro, não necessitarás
de mais ensinos, achaste a vida eterna e a verdade absoluta. O grande erro da nossa época intelectual é crerem os
homens que podem chegar ao conhecimento da verdade por meras especulações
intelectuais, científicas, filosóficas ou teológicos, isto é, tão só
pelo raciocínio. A teoria oculta deve ser conhecida, mas seria um mero
conhecimento teórico, que não prestaria para nada, se não fosse
confirmada, experimentada e realizada por meio da prática. Que
aproveita ao homem falar muito sobre o amor e, como papagaio, repetir
o que ouviu ou leu, se não sente em seu coração o poder divino do
amor? De que lhe servirá falar sabiamente da sabedoria, se não é um sábio?
Ninguém chega a ser um bom músico, soldado ou estadista só pela
leitura doa livros. O poder não se obtém por simples especulação mas
pela prática. Para conhecer o bem há que pensar e praticar o bem; para
experimentar a sabedoria é preciso ser sábio. Amor que não encontre
expressão em acções não obtém nenhuma força. Caridade que só
exista na imaginação, será sempre imaginária se não for expressa em
actos. A toda a acção corresponde uma reacção. Por isso, a prática
das boas acções robustece o amor ao bem que, por sua vez, se manifestará
em forma de novas boas acções. Quem, não sabendo agir bem, age mal, é digno de compaixão; porém, quem sabe como agir bem e age mal, sabe intelectualmente que é digno de condenação. Esta a razão por que é perigoso para os homens" receber instruções sobre a vida superior se a sua vontade é má. Depois de aprendermos a distinguir entre o bem e o mal, optar pelo caminho do mal torna-nos mais responsáveis que antes. Estas cartas não teriam sido escritas se não houvesse esperança de encontrar, entre os seus leitores, alguns que, além de compreenderem intelectualmente seu conteúdo, entrem resolutamente no caminho prático. A porta deste caminho é o conhecimento do Eu. Ela conduz à união com deus e sua primeira consequência é o reconhecimento do princípio da Fraternidade Universal. Carta V Os Adeptos Em tua
resposta à minha última carta, manifestaste a opinião de que o
expoente de espiritualidade exigido pela nossa filosofia e que combina o
intelecto com a moral, é demasiadamente elevado para que o homem possa
alcançá-lo. E duvidas que alguém alguma vez o alcançasse. Permite
dizer que muitos daqueles a quem a igreja cristã chama santos e muitos
outros habitualmente conhecidos por pagãos, obtiveram aquele estado,
alcançaram poderes espirituais e realizaram coisas extraordinárias a
que é costume chamar milagres. Se
examinares a vida dos santos, acharás muitas coisas grotescas,
fabulosas e falsas. Os que só conhecem as lendas, conhecem pouco ou
nada das leis misteriosas da natureza. Relatam fenómenos autênticos ou
apócrifos mas, não podendo explicá-los, atribuem-lhes causas de sua
própria invenção. Em todos esses escombros encontrarás uma parte de
verdade, o que demonstra que a inteligência de pessoas sem ilustração,
pode ser iluminada pela Divina Sabedoria, se tais pessoas vivem
santamente. Verás que, muitas vezes, frades e freiras pobres e
ignorantes, segundo o mundo, sem nenhuma instrução, alcançaram tal
sabedoria que foram consultados por papas e reis; e verás que, muitos
deles, atingiram o poder de abandonar os corpos físicos para, em corpos
subtis, visitar lugares distantes e aparecer em forma material em pontos
remotos. As ocorrências
desta espécie foram tão numerosas que deixaram de parecer extraordinárias,
e nem será necessário descreve-las porque são todas já bastante
conhecidas. Na vida de Santa Catarina de Sena, na de São Francisco
Xavier e nas de muitos outros santos, encontrarás a descrição de
semelhantes incidentes. A história profana também abunda em narrações
referentes a homens e mulheres extraordinários. Limito-me a recordar-te
a história de Joana d'Arc, que possuiu dons espirituais e a de Jacob
Boheme, sapateiro inculto iluminado pela Sabedoria Divina. Nada
seria mais absurdo que disputar sobre semelhantes coisas com um céptico
ou um materialista. Equivaleria a discutir sobre a existência da luz
com um cego de nascença. Nenhum tribunal de cegos pode falar sobre a
existência ou não existência da luz e, não obstante, ela existiu e
existe. Podemos dar aos cegos alguma ideia sobre a luz mas não podemos
provar-lhe cientificamente enquanto permanecerem cegos à razão e à lógica. A "civilização
moderna" a tal ponto tem degradado os conceitos sobre os valores
que, para muita gente, todos os afãs se concentram no dinheiro como
meio de satisfazer seus apetites, comodidades, afeições ou luxos. Tais
pessoas não compreendem que se possa praticar algum ato fora da mira de
enriquecer, comer, beber, dormir e gozar de lodo o conforto da vida. Não obstante, tais pessoas
não são felizes, vivem inquietas e ansiosas, correndo atrás de ilusões
que se desfazem ao tocá-las, ou que geram desejos mais violentos para
outras ilusões. Felizmente,
há muitas pessoas em quem a centelha divina de espiritualidade não foi
abafada pelo materialismo; algumas, até, converteram esta centelha em
chama pelo sopro do Espírito Santo, sopro que ilumina as inteligências
e de tal modo penetra os corpos físicos que, mesmo observadores
superficiais se apercebem do carácter extraordinário dessas pessoas.
Indivíduos desta natureza habitam em diversas partes do mundo e
constituem uma Fraternidade pouco conhecida. Nem é
desejável que seja divulgada porque excitaria a inveja e a cólera dos
ignorantes e dos malvados, pondo em actividade uma força hostil a si própria. Todavia,
como desejas conhecer a verdade não por mera curiosidade mas pelo
desejo de seguir o caminho, foi-me permitido dar-te as seguintes notícias
( ): Os Irmãos
de quem falamos vivem desconhecidos para o mundo. A história nada sabe
deles, contudo, são os maiores da humanidade. Quando se converterem em
pó os monumentos erigidos em honra dos conquistadores do mundo, e
deixarem de existir os reinos e tronos, estes escolhidos ainda viverão.
Tempo chegará em que os homens abandonarão as ilusões e começarão a
estimar o que é digno de apreço; então, os Irmãos serão conhecidos
e apreciada a sua sabedoria. Os nomes
dos grandes da terra estão escritos no pó mas os nomes destes Filhos
da Luz estão no Templo da eternidade. Farei que conheças estes Irmãos;
poderás converter-te num deles. Iniciados nos mistérios da religião,
não pertencem a nenhuma sociedade secreta, como essas que profanam as
coisas sagradas com cerimónias e pompas e cujos membros presumem de
iniciados. Não, somente o Espírito de Deus pode iniciar o homem na
Sabedoria Divina e iluminar sua inteligência. Só o Hierofante pode
guiar o candidato para o altar onde arde o fogo divino, mas é o
candidato que, por si, deve chegar ao aliar. Quem deseja ser iniciado
deve fazer-se digno de obter dons espirituais, deve beber na Fonte que a
todos se oferece mas que não sedenta aqueles que a si mesmo se excluem. Enquanto
ateus, materialistas e cépticos da moderna civilização falseiam a
palavra filosofia e, aparentando celestial sabedoria, pontificam com as
lucubrações dos próprios cérebros, os Irmãos, tranquilamente,
iluminados por uma luz mais alta, constroem, para o Eterno Espírito, um
Templo que permanecerá, mesmo depois do desaparecimento dos mundos. Seu
labor consiste no cultivo dos poderes da alma. O torvelinho do mundo e
suas ilusões não os afectam; no livro misterioso da natureza lêem as
letras vivas de Deus. Reconhecem e gozam das harmonias divinas do
universo. Enquanto os sábios do mundo reduzem a níveis intelectuais e
morais o que é sagrado e exaltado, estes Irmãos elevam-se ao plano da
luz divina e nele encontram tudo quanto, na natureza, é bom, verdadeiro
e justo. Não se
limitam a crer, conhecem a Verdade por contemplação espiritual ou Fé
viva. Suas obras estão em harmonia com sua Fé: fazem o bem por amor do
bem e sabem que é o bem. Sabem que um homem não pode converter-se em
verdadeiro cristão só por abraçar certa crença. A conversão num
cristão verdadeiro significa transformar-se num Cristo, elevar-se acima
da personalidade e consubstanciar, no seio do divino Ego, tudo que
existe nos céus e na terra. É um estado inconcebível por quem nunca o
alcançou. Significa uma condição em que o homem é, real e
conscientemente, o templo onde reside, com todo seu poder, a Trindade
Divina. Só nesta luz ou princípio, a que chamamos Cristo, que outros
povos conhecem por outros nomes, podemos encontrar a verdade. Entra
nesta Luz e aprenderás a conhecer os Irmãos que nela vivem. É o santuário
de todos os poderes e meios chamados sobrenaturais e proporciona a
energia necessária para restabelecer a união que, em remotas eras,
ligava o homem à Fonte Divina donde procede. Se os homens conhecessem a
dignidade das próprias almas e as possibilidades dos seus poderes
latentes, só o desejo desse conhecimento os encheria de respeitoso
temor. Deus é Uno e só existe uma verdade, uma ciência e um caminho
para chegar a Ele. Dá-se a este caminho o nome de Religião; portanto,
só existe uma religião, ainda que haja muitas confissões diferentes.
O necessário para conhecer a Deus está, integralmente, na natureza. As
verdades que a religião pode ensinar existiram desde o princípio do
mundo e existirão até que o mundo acabe. Em todas as nações deste
planeta brilhou sempre a luz, mas as trevas não a compreenderam. Em
certas regiões a luz foi muito brilhante, noutras, menos: brilhou
sempre proporcionalmente à capacidade receptiva do povo e à pureza de
sua vontade. Todas as vezes que encontrou grande acolhimento, apareceu
com dilatado resplendor e os homens capacitados perceberam-na mais
claramente. A verdade é universal, não pode ser monopolizada por ninguém. Os mistérios
mais augustos da religião, tais como a Trindade, a Queda da Mónada
humana, sua Redenção pelo amor, etc., encontram-se tanto nos sistemas
antigos de religião como nos modernos. Conhecê-los é conhecer o
Universo, é conhecer a Ciência Universal, ciência infinitamente
superior a todas as ciências materiais do mundo. Se é certo que estas
examinam algumas particularidades, alguns detalhes da existência, não
locam, porém, as grandes verdades universais que são fundamento da
existência, até com desprezo tratam semelhantes conhecimentos porque
seus olhos estão fechados à luz do espírito. As coisas
externas podem ser examinadas com a luz externa; as especulações
intelectuais requerem a luz da inteligência, mas a percepção das
verdades espirituais precisa da luz do espírito. Uma luz intelectual,
sem a iluminação espiritual, conduzirá os homens ao erro. Os que
desejam conhecer as verdades espirituais devem buscar a luz no seu íntimo
e não em qualquer espécie de fórmulas ou cerimónias externas. Quando
tiverem encontrado Cristo dentro de si serão cristãos. Era esta a
religião prática, a ciência e o saber dos antigos sábios, muito
tempo antes de aparecer o Cristianismo. Era também a religião prática
dos primitivos cristãos que, como verdadeiros discípulos de Cristo,
estavam espiritualmente iluminados. À medida
que o Cristianismo se difundia, as interpretações falsas foram
suplantando a verdadeira doutrina e os símbolos sagrados perderam sua
real significação. As organizações eclesiásticas inventaram ritos e
cerimónias e a fraude e um mórbido misticismo usurparam o trono da
religião e da verdade. Os homens destronaram Deus para se assentarem no
seu trono. A ciência de tais homens não é sabedoria. Suas experiências
não vão alem das sensações corporais. Sua lógica funda-se em
argumentos falsos. Jamais conheceram as relações do homem finito com o
Espírito Infinito. Arrogam-se poderes divinos que não possuem e
induzem os seus semelhantes a buscar neles a luz que só irradia do
divino Ego; e, assim, os enganam com esperanças vãs que sugerem falsas
seguranças que conduzem à perdição. Eis aí
as consequências do poder material acumulado pelas modernas igrejas.
Que demonstra a história? Que o aumento do poder material de uma igreja
diminui o seu poder espiritual. Ela não pode dizer: "Não possuo
ouro nem prata", nem ao enfermo: "levanta-te e caminha"! Se não
for infundida nova vida nos antigos sistemas religiosos, sua decadência
é certa. Sua ineficácia está patente na difusão universal do
materialismo, do cepticismo e da libertinagem. Não pode reavivar-se a
religião, aumentando o poder e a autoridade material do clero. O poder
central que dá vida e movimento a todas as coisas é o Amor. Uma religião
só pode ser forte e verdadeira quando vivificada pelo Amor. A religião
que se fundasse no amor universal conteria os elementos de uma religião
universal. Se o
princípio de amor não for praticamente reconhecido pela igreja, não
haverá nela verdadeiros cristãos nem adeptos, o os poderes espirituais
que o clero pretende possuir só existirão em sua imaginação. Cesse o
clero das distintas denominações de excitar o espírito de intolerância,
desista de convidar o povo à guerra e ao sangue, às disputas e questões.
Reconheça que todos os homens, de qualquer nacionalidade, professem a
religião que professarem, têm uma origem comum e os aguarda o mesmo
destino, todos são fundamentalmente idênticos, diferindo uns dos
outros apenas em condições externas. Quando as igrejas pensarem mais
no interesse da humanidade do que nos seus interesses temporais, então
e só então, reconquistarão seus poderes internos e formarão santos e
adeptos. Outra vez
obterão dons espirituais; os fatos milagrosos se repetirão e serão
mais apropriados do que todas as especulações teológicas para
convencer a humanidade de que, além do reino sensível da ilusão
material, existe um poder supremo, universal e divino que diviniza os
que se identificam com este poder. A verdadeira religião consiste no
reconhecimento de Deus, mas Deus só pode ser reconhecido por meio de
sua manifestação. Ainda que toda a natureza seja uma manifestação de
Deus, o grau mais alto desta manifestação é a divindade no homem.
Unir o homem com Deus, fazer todos os homens divinos, eis o objectivo
final da religião. Reconhecer a divindade em todos é o meio para
atingir aquele fim. O reconhecimento de Deus
significa o reconhecimento do princípio universal de amor divino. Quem
reconhece plenamente este princípio abre os sentidos internos e a mente
à iluminação da Sabedoria Divina. Quando todos os homens tiverem
chegado a este cume, a luz do espírito iluminará o mundo, assim como,
agora, o ilumina a luz do sol. Então, o saber substituirá a dúvida, a
fé substituirá a crença e o amor universal reinará em vez do amor
pessoal. A majestade de Deus Universal e a harmonia de Suas leis serão
reconhecidas na natureza e no homem. E nas jóias que adornam o trono do
Eterno, jóias que os Adeptos conhecem, resplandecerá a luz do Espírito. Carta
VI Experiências
Pessoais
A natureza tem inumeráveis mistérios que o homem deseja descobrir. Estão
errados os que acreditam na existência de sociedades possuidoras de
segredos determinados que, se quisessem, poderiam comunicar a outras
pessoas não evoluídas espiritualmente. O homem que, por meio de
favores, pretenda obter o saber verdadeiro, esse que se consegue pelo
desenvolvimento espiritual, deixará de esforçar-se no adiantamento e,
ao aderir a sociedades secretas na esperança de obtê-lo gratuitamente,
sofrerá total desengano.
No verão de 1787, estando eu sentado num banco de jardim, próximo ao
castelo de Burgem, Munich, pensava profundamente nesse assunto. Um
estrangeiro, de aspecto digno e respeitável, vestido sem a menor
pretensão, passeava por uma das áreas do jardim. Dir-se-ia que a
tranquilidade suprema de sua alma se reflectia em seus olhos. Tinha
cabelos grisalhos e o olhar tão bondoso que, ao passar diante de mim,
instintivamente levei a mão ao chapéu. Ele também me saudou
amavelmente.
Senti um impulso de segui-lo e falar-lhe, mas não tendo a menor desculpa
para fazê-lo, contive-me. O estrangeiro desapareceu, mas no dia
seguinte, mais ou menos à mesma hora, tendo eu voltado ao mesmo lugar
na esperança de encontrá-lo, ali estava sentado num banco, lendo um
livro. Não me atrevendo a interrompê-lo, passeei pelo jardim durante
algum tempo. Quando voltei, o estrangeiro já não estava, mas tinha
deixado um livro em cima do banco. Apressei-me a tomá-lo, esperando ter
oportunidade de devolvê-lo e, com isso, ocasião para conhecer o
distinto personagem. Olhei o livro, mas nada pude ler porque estava
escrito em caracteres caldaicos. Só na página do título eslava
escrita, em latim, uma breve sentença que dizia assim: "Aquele que
se levanta cedo em busca da sabedoria, não precisa ir muito longe,
encontra-a sentada defronte da sua porta".
Os caracteres do livro eram muito formosos, de um vermelho muito brilhante,
a encadernação de um azul magnífico, com fechos de ouro. O papel finíssimo,
branco parecia emitir todas as cores do arco-íris, à maneira de nácar.
Uma fragrância esquisita penetrava as folhas daquele livro.
Durante três dias consecutivos, às doze fui àquele lugar, na esperança,
em vão de encontrar o estrangeiro. Por fim, descrevendo o cavalheiro a
um dos guardas, soube que era visto com frequência, às quatro da manhã,
passeando à beira do Isar, perto de lima pequena cascata, num sítio
chamado "O Praler". Indo ali, no dia seguinte, fiquei
surpreendido ao vê-lo a ler outro livro parecido com o que eu
encontrara.
Acerquei-me para devolver-lhe o livro, explicando como tinha chegado às
minhas mãos, mas ele pediu que o aceitasse e o considerasse como
presente de um amigo desconhecido. Ao retorquir que não podia ler o seu
conteúdo, exceptuando os dizeres da primeira página, respondeu que
tudo quanto dizia o livro se referia ao que aquela sentença expressava.
Pedi-lhe que me explicasse e o estrangeiro, ao longo do passeio que, por
algum tempo, demos pela margem do rio, contou-me muitas coisas
importantes sobre as leis da natureza. Tinha viajado muito e possuía um
verdadeiro tesouro de experiências. Ao nascer do sol disse: "Vou
mostrar-lhe algo curioso" e sacou do bolso um pequeno frasco
deitando na água algumas gotas do seu conteúdo. Imediatamente as águas
do rio começaram a brilhar com todas as cores do arco-íris, até uma
distância de mais de trinta pés da margem. Alguns trabalhadores das
imediações aproximaram-se para contemplar o fenómeno. A um deles, que
estava enfermo, padecendo de reumatismo, o estrangeiro deu algum
dinheiro e certos conselhos, assegurando-lhe que, se os seguisse, em três
dias estaria bom. O operário agradeceu mas o estrangeiro respondeu-lhe:
"Não me agradeça mas sim ao poder omnipotente do bem".
Ao entrarmos na cidade, convidou-me para um novo encontro, no dia seguinte,
mas sem declinar o nome nem o lugar de sua residência. Encontrei-o no
dia seguinte e dele soube coisas de tal natureza que ultrapassaram tudo
quanto podia imaginar acerca dos mistérios da Natureza. Todas as vezes
que me falava das grandezas da criação parecia estar possuído de um
fogo sobrenatural.
Senti-me confuso e deprimido ante tão superior sabedoria e maravilhava-me
ao pensar em como podia ter adquirido esses conhecimentos. O estrangeiro,
lendo meus pensamentos, disse: "Vejo que ainda não vos decidistes
a respeito da espécie de ser humano em que qualificar-me, mas
asseguro-vos que não pertenço a nenhuma sociedade secreta, embora
conheça os segredos de todas as sociedades semelhantes. Amanhã vos
darei mais explicações, agora tenho várias coisas que fazer.
— Tendes negócios, perguntei, desempenhais algum cargo público?
— Querido amigo, respondeu-me o estrangeiro, quem é bom encontra sempre
em que ocupar-se e fazer o bem é o emprego mais alto que o homem pode
desempenhar.
Dito isto, partiu e não o vi mais durante quatro dias. No quinto chamou-me
pelo nome às quatro da manhã, pela janela do meu quarto e convidou-me
para um passeio. Levantei-me, vesti-me e saímos. Contou-me, então,
algumas coisas sobre a sua vida passada e, entre elas, que, por volta
dos 25 anos, travara conhecimento com um estrangeiro que lhe
ensinou muitas coisas e lhe ofereceu um manuscrito que continha
ensinos notáveis. Mostrou-me o manuscrito e lemo-lo juntos.
Eis aqui alguns extractos do mesmo:
“Novas ruínas
descobertas do Templo de Salomão
- Assim como a imagem de um objecto pode ser vista na água,
do mesmo modo os corações dos homens podem ser vistos pelos sábios.
Deus te bendiz, filho meu, e te permite publicar
o que digo para que, assim, aos homens sejas benéfico. Filius
Vitis (Filho da Vida), um dos Irmãos mostrou-me o caminho para os
mistérios da natureza, mas durante largo tempo absorvi-me nas ilusões
que flutuam nas margens desse caminho. Finalmente, convenci-me da
inutilidade de semelhantes ilusões e abri meu coração de novo aos cálidos
raios do amor divino, do grande sol espiritual.”
“Então, reconheci a verdade: que a posse da sabedoria divina tem mais
valor do que a posse de tudo mais; que o saber humano nada vale e o próprio
homem nada é se não se converte em instrumento para a sabedoria divina.
Esta sabedoria, desconhecida para o sábio do mundo, é conhecida por
algumas pessoas. Oceanos separam o país dos sábios daquele onde moram
os néscios. Tal país não será descoberto enquanto os homens não
acostumarem os olhos à radiação da luz divina. Ali, no Templo da
Sabedoria, há uma inscrição que diz: Este templo é sagrado pela
contemplação das divinas manifestações na natureza.”
“Sem verdade não há nenhuma sabedoria, nem existe verdade sem bondade. A
bondade raramente se encontra no mundo. Por isso, frequentemente, as
verdades e a sabedoria do mundo não são mais do que loucuras.”
“Estamos livres de preocupações e, com os braços abertos, recebemos os
que vêm até nós trazendo o selo da divindade. A ninguém perguntamos
se é judeu ou pagão. Tudo quanto exigimos é que se mantenha fiel a
sua humanidade. O amor é o traço de união entre nós e por ele
trabalhamos em prol da humanidade. Conhecemo-nos uns aos outros pelas
obras e quem possui mais elevada sabedoria é o maior entre nós. Nenhum
homem pode receber mais do que merece. O amor divino e a ciência são-lhe
dados proporcionalmente à sua capacidade para amar e para saber.”
“A fraternidade dos sábios é eterna e absoluta. O sol da verdade eterna
ilumina o seu templo. O cristal é aquecido pelo sol e esfria-se quando
afastado da luz: do mesmo modo, quando a mente do homem é penetrada
pelo divino amor obtém sabedoria, porém, se se afasta da verdade, a
sabedoria se extingue. As sociedades secretas e sectárias perderam a
verdade e delas a sabedoria desapareceu. Amam aos que servem seus
particulares interesses e empregam fórmulas e símbolos de que não
compreendem a significação. De filhos que eram da luz, converteram-se
em filhos das trevas. O Templo de Salomão construído por seus
antepassados foi destruído, não existe dele pedra sobre pedra. A maior
confusão reina em suas doutrinas. As colunas do Templo ruíram e, no
lugar do santuário, rastejam agora serpentes venenosas. Se desejas
saber a verdade ou não do que digo, empunha o facho da razão e entra
nas trevas. Contempla o trabalho das sociedades sectárias realizado no
passado e no presente e só verás egoísmo, superstição, crueldade e
assassínio.”
“O número dos seres humanos que vive sumido nas trevas é de milhões,
mas o número dos sábios é pequeno. Vivem em diferentes partes do
mundo, a grande distância uns dos outros mas estão inseparavelmente
unidos em espírito. Falam diversas línguas, mas todos se compreendem
porque a língua dos sábios é espiritual. Opõem-se às trevas e ninguém
mal intencionado pode aproximar-se da luz porque suas próprias trevas o
destroem. Os homens os desconhecem. Dia virá que, movidos como por um
impulso do dedo de Deus, num momento destruirão a obra secular dos
malvados. Não busques a luz nas trevas nem a sabedoria nos corações
dos malvados. Se te aproximares da verdadeira luz conhecê-la-ás e
iluminará a tua alma.”
Estes são alguns extractos do manuscrito. Continha muitas notícias sobre
os Irmãos da Cruz e da Rosa de Ouro. Não me é permitido falar de tudo
quanto nele aprendi; em resumo, depreende-se que os verdadeiros
Rosacruzes formam uma sociedade espiritual que nada tem a ver com as
sociedades secretas do mundo. Não constituem uma sociedade, no sentido
literal da palavra, porque não têm estatutos, nem regras, nem cerimónias,
nem cargos, nem reuniões, nem nada do que estrutura as sociedades
secretas. É certo grau de sabedoria que converte um homem em Rosacruz.
Porque é um Iniciado compreende praticamente o mistério da Cruz e da Rosa,
a lei da evolução da Vida. Seu conhecimento prático transcende toda
teoria e conhecimento intelectual. É inútil meditar sobre questões místicas
que estão além do nosso horizonte mental. É inútil tentar penetrar
nos mistérios espirituais antes de nos espiritualizarmos. O
conhecimento prático supõe prática e só pode ser adquirido pela prática.
Para obter poder espiritual é necessário praticar as virtudes
espirituais da Fé, da Esperança e da Caridade. A única maneira de
chegar a sábio é cumprir, durante a vida, seu dever. Amar a Deus em
toda a humanidade e cumprir seu dever, eis a suprema sabedoria humana,
emanada da Sabedoria Divina.
Na medida em que aumenta o amor e a sabedoria, aumenta o poder espiritual
que eleva o coração e alarga o horizonte mental. Lenta e quase
imperceptivelmente, abrem-se os sentidos internos, adquire-se maior
capacidade receptiva e cada passo para o alto dilata o campo de visão.
Dignas de lástima são as sociedades e as seitas que tentam obter o
conhecimento das verdades espirituais por meio da especulação filosófica,
sem a prática da verdade. Inúteis são as cerimónias, meras
exterioridades, se não se compreender sua significação oculta. Uma
cerimónia nada vale, é mera ilusão e impudor se não expressar um íntimo
processo da alma. O símbolo, pelo contrário, é facilmente
compreendido quando a íntima vivência é real. A incompreensão do
significado dos símbolos e as consequentes disputas e diferenças de
opiniões demonstram que as diversas seitas perderam o poder interno e
possuem unicamente a forma morta.
A religião das seitas e sociedades secretas funda-se no amor e na admiração
egoístas do eu pessoal. É certo que algumas pessoas generosas e
desprendidas aí se encontram, mas a maioria espera obter benefícios,
roga por sua salvação e age bem com mira cm recompensas. Por isso,
vemos o cristianismo dividido em centenas de sociedades, seitas e religiões
diferentes, muitas detestando-se e procurando prejudicar-se umas às
outras. Vemos o clero de todos os países ansioso de poder político e
de servir os interesses da sua igreja. Perdeu de vista o Deus Universal
da humanidade e colocou em Seu lugar o ídolo do eu pessoal. Pretende
possuir poderes divinos e emprega sua influência na obtenção de benefícios
materiais para a sua igreja. E, assim, o divino princípio de Verdade é
prostituído todos os dias e todas as horas nas igrejas, convertidas em
mercados. O templo da alma está ocupado por mercadores, o Espírito de
Cristo está ausente.
Cristo, a Luz Universal do Logos Manifestado, a Vida e a Verdade, está em
toda a parte, não pode ser encerrado numa igreja nem numa sociedade
secreta. Sua igreja é o Universo e seu altar o coração de cada ser
humano que recebe a sua luz.
O verdadeiro discípulo de Cristo não sabe o que é desejo egoísta. Não
se preocupa com o bem estar de outra igreja que não seja aquela,
suficientemente ampla, que possa conter a humanidade inteira, não lhe
importando as diferentes opiniões. Nem se preocupa com a salvação
pessoal e muito menos espera obtê-la à custa de outrem. Sentindo o
amor imortal, sabe que ele próprio é imortal, reconhecendo que na
consciência de Deus mergulham as raízes do seu Ego individual. O
verdadeiro Filho da Luz harmoniza a vontade, o pensamento e o desejo com
o Espírito Universal. Pôr o Ego receptivo à divina Luz, executar a
sua Vontade e, deste modo, converter-se em instrumento do poder de Deus
manifestado sobre a Terra, eis o único meio de adquirir a ciência
espiritual e de tornar-se um Irmão da Cruz e da Rosa de Ouro. Carta
VII Os
Irmãos
Não
perguntes quem são os que escreveram estas cartas, julga-as pelos méritos
que apresentam, considera não meramente as palavras, mas o espírito
com que foram escritas.
Não nos
move nenhum espírito egoísta. E a luz interna que nos instiga a agir,
que nos impulsiona a escrever-te. As credenciais são as verdades que
possuímos, verdades facilmente reconhecidas por aqueles que põem a
verdade acima de tudo. Também a ti as revelaremos, na medida da tua
capacidade para receber ou não o que dissermos.
A
Sabedoria Divina não clama que a admitam; luz que brilha com eterna
tranquilidade, espera pacientemente o dia em que seja reconhecida e
aceita.
Nossa
comunidade existiu desde o primeiro dia da criação e continuará
existindo até ao último. É a sociedade dos Filhos da Luz. Seus
membros conhecem a luz que brilha no interior e no exterior das trevas e
a natureza do destino humano. Em sua Escola, o Mestre, a própria
Sabedoria Divina, ensina aos que procuram a verdade pela verdade e não
por qualquer benefício mundano. Os mistérios explicados nesta Escola
reportam-se às coisas que é possível conhecer, relativas a Deus, à
Natureza e ao homem. Todos os antigos sábios aprenderam em nossa Escola.
Entre seus membros, alguns são habitantes de outros mundos, distintos
deste. Esparsos pelo Universo, todavia estão ligados por um só Espírito.
Entre eles não há diferença de opiniões. Estudam num só livro e,
para todos, o método de estudo é o mesmo. Esta Sociedade é composta
de Escolhidos, dos que buscam a luz e podem recebê-la. O que possuí
maior receptividade para a luz e o Chefe. O lugar de reunião e
intuitivamente conhecido por cada membro e facilmente alcançado por
todos, residam onde residirem. Está muito perto, mas tão oculto aos
olhos do mundo que ninguém, a não ser um iniciado, pode encontrá-lo.
Os que estão maduros podem entrar, mas os que estão verdes esperam.
A Ordem
possui três graus: ao primeiro chega-se pelo poder da inspiração divina;
ao segundo, pela iluminação interior e, ao terceiro, o mais
elevado, pela contemplação e adoração.
Não
existem entre nós disputas, nem controvérsias, nem especulações, nem
sofismas, nem dúvidas, nem ceticismos. Aquele a quem se apresenta a
melhor oportunidade para fazer o bem é o mais feliz. Estamos de posse
dos maiores mistérios e, não obstante, não constituímos nenhuma
sociedade secreta. Nossos segredos são um livro aberto para quem está
disposto e apto. O segredo que mantemos não decorre de pouco desejo de
ensinar, mas resulta da fraqueza dos que pedem os ensinamentos. Estes
segredos não podem ser comprados por dinheiro nem demonstrados
publicamente. Os corações despertados para estes poderes são capazes
de receber a sabedoria e o amor fraternos e compreendem-nos. Aquele que
despertou o fogo sagrado é feliz e está contente. Percebe a causa das
misérias humanas e a necessidade inevitável do mal e dos sofrimentos.
Sua visão clara compreende o fundamento de todos os sistemas religiosos,
as verdades relativas que contêm e a instabilidade que os caracteriza,
por falta, entre os seus membros, do verdadeiro saber.
A
humanidade vive mergulhada num mundo de símbolos, incompreendidos pela
maioria dos homens. Mas aproxima-se o dia do reconhecimento do espírito
vivente que encerram. Então, os sagrados mistérios serão revelados.
Perfeito
conhecimento de Deus, perfeito conhecimento do homem, são as luzes que,
no templo da verdade, iluminam o santuário da sabedoria.
Fundamentalmente, só existe uma religião e uma fraternidade universais.
Sob as formas, os sistemas e associações religiosos, jaz, somente, uma
parte da verdade. São cascas, revelando verdades relativas do que
representam e ocultam, mas necessárias aos que não podem ainda
reconhecer a verdade invisível e informe representada pelos símbolos.
Ensinar a
compreender, pouco a pouco, que a verdade ali existe, ainda que invisível,
é cooperar no despertar da crença, base do desenvolvimento da fé e do
conhecimento espirituais. Mas, se as formas externas de um sentimento
religioso representam verdades ocultas não integradas no sistema, tais
símbolos só representam coisas ridículas. Existem tantos erros nas
formas como nas teorias porque, sendo infinita a verdade absoluta, não
pode circunscrever-se a uma forma ou teoria limitadas. Os homens,
equivocadamente, tomaram a forma pelo espírito, o símbolo pela verdade
e, deste equívoco, nasceram infinitos erros. Denunciá-los ou
estabelecer ardentes controvérsias em nada os corrige; assim também,
as atitudes hostis não corrigirão os que vivem no erro. As trevas não
podem ser dissipadas ou combatidas com armas. A luz é que as afasta.
Onde entra o saber a ignorância desaparece.
No
presente século que começa aparecerá a luz. Coisas ocultas durante
centúrias serão conhecidas, muitos véus serão levantados. Será
mostrada a verdade que está para além da forma. A humanidade, como um
todo, mais se aproximará de Deus.
Não
podemos dizer-te, agora, por que isto virá neste século. Limitamo-nos
a dizer que cada coisa tem seu tempo e seu lugar e que todas as coisas
no Universo estão reguladas por uma lei de ordem e harmonia divinas.
Primeiro veio o símbolo que ocultava a verdade; depois, a explicação
do símbolo e, finalmente, a própria verdade será recebida e
reconhecida. A árvore brota da semente, o símbolo, a síntese do seu
inteiro carácter.
É nosso
dever ajudar ao nascimento da verdade e abrir as cascas que cobrem a
verdade, reavivando, por toda a parte, os hieróglifos mortos. Não são
os poderes pessoais que nos permitem fazer isto, mas o poder da luz que,
como seus instrumentos, opera em nós. Não pertencemos a nenhuma seita,
não lemos ambições a satisfazer, não desejamos ser conhecidos, nem
somos daqueles a quem desgosta o presente estado de coisas do mundo e
desejariam governar para impor suas opiniões à humanidade. Não existe
ninguém, partidarismo algum, que influa sobre nós, nem esperamos prémio
pessoal pelo nosso trabalho.
Possuímos
uma Luz que nos abre os mistérios mais profundos da natureza e um Fogo
que nos alimenta e permite agir em tudo que na natureza existe. Temos as
chaves de todos os segredos e conhecemos os elos que unem o planeta a
todos os mundos. Temos a ciência universal, que abraça todo o universo,
cuja história começou com o primeiro dia da criação.
Possuímos
todos os livros de sabedoria antiga. A natureza está sujeita à nossa
vontade porque somos unos com o Espírito universal, a potência motriz
do universo e a origem eterna da vida. Não precisamos ser informados
nem pelos homens nem pelos livros que escrevem porque conhecemos tudo
que existe, lemo-lo nesse livro isento de erros, a natureza. Tudo se
ensina em nossa Escola, é nossa Mestra a Luz que produziu todas as
coisas.
Podemos
falar-te das coisas mais maravilhosas, tão longe do alcance do filósofo
mais erudito do nosso tempo como o sol da terra. Todavia, estão para nós
tão perto como a Luz está próxima do Espírito donde emana.
Não
temos a intenção de excitar a tua curiosidade. Desejamos, sim, criar
em ti a sede da sabedoria e a fome do amor fraterno, para que possas
abrir teus olhos à luz e contemplar a verdade divina. Não nos cumpre
aproximar-nos de ti para dar-te entendimento: o poder da própria
verdade é que entra no coração, é o esposo divino da alma que chama
à porta. E quantas almas rejeitam este esposo, submersas nas ilusões
da existência externa!
Desejas
ser um membro da nossa Fraternidade? Desejas conhecer os Irmãos? Entra
em teu coração, aprende a conhecer a divindade que se manifesta em tua
alma.
Busca em
ti o que é perfeito, imortal, permanente. Quando encontrares, entrarás
em nossa confraria e conhecer-nos-ás. Tens que expulsar todas as
impurezas antes de entrar em nosso círculo, imune a toda imperfeição.
Todos os elementos mortais do teu íntimo deverão ser consumidos pelo
fogo do amor divino. Deves ser baptizado com a água da verdade e
vestido da substância incorruptível originada dos pensamentos. O sensório
interno deverá abrir-se à percepção das verdades espirituais e a
mente aos clarões da sabedoria divina. Por estes meios, poderão
desenvolver-se em tua alma elevados poderes. Com eles estarás apto a
vencer o mal. Todo o teu ser será restaurado e transformado num ser
luminoso, teu corpo servirá de mansão ao espírito divino.
Perguntas
quais são as nossas doutrinas? Não tomamos a defesa de nenhuma. Fosse
qual fosse a que te apresentássemos seria mera opinião duvidosa
enquanto não te conheceres a ti mesmo. Interroga teu espírito divino,
abre tua alma, teus sentidos, à compreensão do que te diz e certamente
responderá às tuas perguntas.
Tudo que
podemos fazer por ti é oferecer-te algumas teorias. Considera-as,
examina-as e não creias nelas só porque procedem de nós. Devem
servir-te de balizas e sinais durante tuas excursões pelo labirinto do
exame próprio.
Uma das
proposições que submetemos à tua ponderação é que a humanidade,
como um todo, não será feliz enquanto não reviver no espírito da
sabedoria divina e do amor fraternal. Quando isto for realidade, os
regentes do mundo terão coroas de razão pura, os ceptros serão amor
e, ungidos do poder puro, poderão libertar os povos da superstição e
das trevas. Então, com tal aperfeiçoamento, melhorarão as condições
da humanidade, desaparecerão a pobreza, o crime e as enfermidades.
Outra
sentença te apresentamos: os homens seriam mais espirituais e mais
inteligentes se a densidade das partículas materiais dos seus corpos não
impedissem a acção do próprio espírito. Quanto mais grosseiramente
vivem, quanto mais se deixam dominar pela sensualidade animal e
semi-animal, tanto menos podem alçar o pensamento às regiões
superiores do mundo ideal e perceber as eternas realidades do espírito.
Repara nas formas humanas que transitam pelas ruas, repletas de
alimentos carnívoros, cheias de impurezas, com o selo da intemperança
e da sensualidade impresso nos rostos — e pergunta a ti próprio se
estarão em condições de nelas manifestar-se a sabedoria divina.
Também
te dizemos: espírito é substância, é realidade; seus
atributos são indestrutibilidade, impenetrabilidade e duração. Matéria
é um agregado que produz a ilusão da forma, é divisível,
penetrável, corruptível e está sujeita a mudanças contínuas.
O reino
espiritual é um mundo indestrutível que existe agora e sempre. Cristo,
o Logos, está no centro e seus habitantes são poderes conscientes e
inteligentes.
O mundo físico
é um mundo de ilusões, não pode conter a verdade absoluta. As causas
que explicam o mundo externo são relativas e fenoménicas. Este mundo
é, por assim dizer, uma pintura sombria, comparado ao mundo interno e
real onde brilha a luz do espírito vivente que opera no interior e no
exterior da matéria.
A inteligência
inferior do homem toma as ideias do reino mutável do sensível e. por
isso, está sujeita à maior versatilidade. Mas a inteligência
espiritual, ou intuição, um atributo do espírito é imutável e
divina.
Quanto
mais etéreas, refinadas, subtis, forem as partículas constituintes do
organismo humano, mais facilmente serão penetradas pela luz da inteligência
e da sabedoria espirituais.
Um sistema
racional de educação deverá fundar-se no conhecimento da constituição
física, psíquica e espiritual do homem. Será possível quando a
constituição do homem for conhecida completamente e, acima de tudo, a
sua essência, o espírito, não o seu espectro, a matéria. Os aspectos
da constituição humana podem ser estudados por métodos externos mas o
conhecimento do seu organismo invisível só pode ser obtido pela
introspecção, pelo estudo de si mesmo. O
conselho mais importante que temos a dar-te é, portanto, CONHECE TEU PRÓPRIO
EU. As
proposições anteriores são suficientes. Deves meditá-las, examiná-las
à luz do espírito, até que recebas mais ensinamentos.
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