FRATERNIDADE ROSACRUZ in LUSITANIA Lusitano Centro Rosacruz Max Heindel Autorizado por The Rosicrucian Fellowship Rua de Cedofeita, 455 1º sala 8 * 4050-181 PORTO
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by Manly Palmer Hall
«Uma referência interessante a Saint-Germain apareceu no London
Chronicle, de 31 de maio a 3 de junho, 1760, sob o título
"Histórias de um misterioso estrangeiro": "Da Alemanha ele levou para a França a reputação de grande e
poderoso alquimista, que possuía o pó secreto e, por conseqüência,
o remédio universal. Corriam rumores de que o estrangeiro sabia
fabricar ouro. A forma dispendiosa na qual vivia parecia confirmar
esse relato, mas o ministro da época, a quem o assunto fora
confidenciado como importante, respondeu sorrindo que o resolveria
rapidamente. Ele ordenou um inquérito para determinar de onde
vinham as remessas que ele (Saint-Germain) recebia, e disse àqueles
que o procuraram que logo lhes mostraria quais eram as riquezas
produzidas pela pedra deste filósofo. Os meios que aquele homem
ilustre utilizou para explicar o mistério, embora muito sensatos, só
serviram para aumentá-lo. Não se sabe se o estrangeiro tomou
conhecimento do inquérito que foi ordenado e encontrou meios de
burlá-lo, ou por quaisquer outros motivos desconhecidos, o fato é
que no espaço de dois anos, enquanto era observado, ele viveu como
de costume, pagando tudo em dinheiro vivo e, no entanto, não entrou
no reino nenhuma remessa que lhe fosse destinada." (Reimpresso nas páginas 95-96, Secret Societies and the French
Revolution Sociedades Secretas e a Revolução Francesa], de Una
Birch.) Podem-se citar numerosos autores que tiveram alguma relação passageira com
o conde de Saint-Germain, porém, a maioria dos incidentes
registrados não fornece pista alguma sobre suas convicções
religiosas ou filosóficas, ou as instruções secretas que
supostamente ele ministrava a um pequeno círculo de discípulos aceitos. Tanto La Tres Sainte TrinosoPhie da Biblioteca de Troyes, na França,
quanto o manuscrito criptografado La Magie Sainte, da
Biblioteca de nossa Sociedade, são dedicados inteiramente aos
segredos mais profundos da tradição esotérica. Há relatos sobre
a existência de um terceiro manuscrito que, de acordo com Lionel
Hauser, membro do Conselho Diretor da Sociedade de Teosofia da França,
pertence à coleção de um homem altamente iluminado que reside no
sul da França. Les Mysteres de Ia Science, de Louis Figuier, Paris, 1881?, inclui uma concepção
de um artista sobre a iniciação do conde e da condessa Cagliostro
aos ritos secretos, presidida pelo conde de Saint-Germain. Este
quadro parece ter sido inspirado por uma descrição que aparece in Memoires
Authentiques pour Servir a I'Histoire du Conde de Cagliostro. Este
livro foi publicado anonimamente em 1785 e costuma ser atribuído ao
marquês de Luchet. De acordo com este pequeno volume, Cagliostro
requisitou o favor de uma audiência secreta com Saint-Germain para
si e para a esposa. O encontro foi marcado para as duas horas da manhã. O santuário estava
iluminado por centenas de velas e Saint-Germain sentava-se num
palanque no meio da sala. No decurso do ritual, um livro misterioso
foi aberto e Cagliostro ouviu a leitura de seu próprio futuro, com
a descrição detalhada de sua perseguição, julgamento, desonra e
prisão. Em A Modern Panarion, H. P. Blavatsky escreve sobre
Saint-Germain: "O tratamento que este grande homem, este aluno
dos hierofantes hindus e egípcios, este conhecedor da sabedoria secreta do Oriente teve por parte dos escritores ocidentais é uma
mancha na natureza humana." Em muitos países europeus, especialmente a França e a Alemanha, houve um
forte reflorescimento das crenças esotéricas na segunda metade do
século XVIII. A confusão política daquele tempo inspirou muitas
pessoas preocupadas com a situação a explorar a sabedoria do mundo
antigo. As convicções miraculosas eram sustentadas por referências
à escola alexandrina, que interpretava a teologia dos egípcios
mais recentes em termos de magia e metafísica. Houve um forte
reflorescimento do movimento rosacruz, da alquimia, astrologia, das
artes herméticas, cabala e magia cerimonial. Apareceu uma
literatura considerável e a ignorância dos crédulos foi explorada
para fins de lucro pessoal. Embora Saint-Germain atuasse em meio à confusão prevalecente dessas
doutrinas, não foi tocado pelo psiquismo popular. Ele nunca foi
acusado de fraude, embora fossem feitos muitos esforços para
estragar sua reputação. Suas habilidades e realizações eram as
maravilhas daquele tempo. Pessoa célebre, transitava pelos altos círculos
da sociedade, sendo um artista talentoso, músico, químico
competente e um dedicado estudioso das disciplinas iogues e tântricas,
que ele dominava, as quais, segundo a crença, aprendera durante sua
viagem à Índia na companhia de lorde Clive. Quando na companhia de
eruditos, provou ser letrado em quase todos os ramos da erudição. Saint-Germain era reconhecido por ter uma memória extraordinária, que
disse ter sido disciplinada por meio da leitura regular do IL
Pastor Fido de Battista Guarini (1538-1612), o célebre poeta
italiano cortesão renascentista. Depois de uma associação mais ou
menos infeliz com o duque de Ferrara, Battista se retirou para sua
fazenda ancestral e escreveu Il Pastor Fido (O Fiel Pastor).
Guarini era um polemista e, como Tasso, defendia uma reforma
universal da sociedade humana. O Pastor Fido tem uma forte
característica rococó. É elegante e foi dramatizado várias vezes. Diz-se que inspirou The
Faithful ShePherdess (A Pastora Fiel) de John Fletcher. A presente obra dá algumas indicações do conhecimento que Saint-Germain
tinha das ciências obscuras. Como é de se esperar, parte do
manuscrito está em código e não há uma chave óbvia para ele. Há
símbolos gnósticos e algumas ilustrações que também parecem
sugerir os mistérios gregos. As escolas francesas de Eliphas Levi,
De Guaita e Papus no século XIX parecem ter herdado muito do seu
simbolismo do reflorescimento da antiga sabedoria no século XVIII.
Muitos estudiosos das ciências esotéricas parecem não ter
conhecimento dessas escolas francesas, que estavam fortemente
comprometidas com as artes e ciências secretas. Embora quase duzentos anos tenham se passado desde sua morte ou
desaparecimento, a pesquisa sobre o caráter e a carreira de Saint-Germain
continua. Foi chamado "o homem que não morre", e é certo
que o interesse por sua pessoa ainda está bem vivo. Ele pertencia a
uma tradição na qual muitas pessoas querem acreditar. Ele
testemunha a possibilidade da imortalidade e da conquista da
sabedoria. Saint-Germain foi um iniciado da Tradição dos Mistérios
e deve ser incluído entre aqueles que os rosacruzes chamaram de
servos do Generalíssimo do Mundo e fiéis secretários da Natureza. O HOMEM QUE NÃO MORREO grande iluminista, rosacruz e maçom que se denominava conde de Saint-Germain
é sem dúvida a mais intrigante personalidade da história moderna.
Seu nome era um sinônimo de mistério e o enigma de sua verdadeira
identidade ficou insolúvel, tanto para seus contemporâneos como
par pesquisadores posteriores. Ninguém questionava o berço nobre ou a ilustre propriedade do conde. Sua
personalidade como um todo levava a marca indelével da educação
aristocrática. A graça e a dignidade que caracterizavam sua
conduta, junto com sua perfeita serenidade em todas as situações, atestavam
refinamento inato e a cultura de alguém acostumado a um posição
elevada. Uma publicação londrina faz a seguinte análise breve de sua
ancestralidade: "Será que ele, em sua velhice, contou a verdade a se entusiástico
protetor e admirador, príncipe Charles dHesse CasseI? Segundo a
história contada por este seu último amigo, ele era filho do príncipe
Rakoczy, da Transilvânia, e sua primeira esposa, uma Takely.
Quando bebê, foi confiado à proteção do último Médici, Gian
Gastone. Já adulto, soube que seus dois irmãos, filhos da princesa
Hesse Rheinfels, de Rothenburg, haviam recebidos os nomes de Santo
Charles e Santa Elizabeth, decidiu tomar o nome Santo Germanus, de seu irmão santo. Qual era verdade? Apenas uma coisa é certa: ele era
protegido do último Medici." Caesare Cantu, bibliotecário em Milão, também apóia a hipótese Rakoczy,
acrescentando que Saint-Germain foi educado na Universidade de
Siena. Na sua excelente monografia, The Comte de St.Germain, lhe Secret of
Kings, a senhora Cooper-Oakley lista os nomes mais importantes
sob os quais esta pessoa espantosa se disfarçou entre os anos 1710
e 1822. "Durante esse tempo", escreve ela, "temos M. de Saint-Germain
como o marquês de Montferrat, conde Bellamarre ou Aymar em Veneza,
chevalier Schoening em Pisa, chevalier Weldon em Milão e Leipzig,
conde Soltikoff em Geneva e Leghorn, graf Tzarogy em Schwalback e
Triesdorf, príncipe Ragotzky em Dresden, e conde de Saint-Germain
em Paris, Hague, Londres e São Petersburgo." A esta lista pode-se acrescentar que houve uma tendência entre escritores místicos
a conectá-Io com o misterioso conde de Gabalais, que apareceu ao
abade Villiers e pronunciou vários discursos sobre espíritos
sobrenaturais. Nem é impossível que ele seja o mesmo notável
signor Gualdi, cujas explorações Hargrave Jennings relata em seu
livro The Rosicrucians, their Rites and Mysteries. Suspeita-se
também que seja o conde Hompesch, o último Grande Mestre dos
Cavaleiros de Malta. Quanto à aparência pessoal, o conde de Saint-Germain é descrito como
tendo altura mediana, corpo bem proporcionado. e traços regulares e
agradáveis. Ele era moreno e seu cabelo escuro, embora freqüentemente
empoado. Vestia-se com simplicidade, usualmente de preto, mas suas
roupas tinham bom corte e eram da melhor qualidade. Seus olhos possuíam
um grande fascínio e aqueles que se fixavam neles eram
profundamente influenciados. Segundo madame de Pompadour, ele
afirmava possuir o segredo da juventude eterna e, em certa ocasião,
afirmou ter conhecido Cleópatra pessoalmente e, em outra, ter "conversado intimamente com a rainha de Sabá!" Não fosse por sua
personalidade notável e seus poderes aparentemente sobrenaturais, o
conde sem dúvida teria sido considerado louco, mas seu gênio
transcendente era tão evidente que era meramente chamado de excêntrico. No Souvenirs de Marie Antoinette, da condessa d'Adhemar, temos uma
excelente descrição do conde, a quem Frederico, o Grande se
referia como "o homem que não morre": "Em 1743 propagou-se o rumor de que um estrangeiro, enormemente rico, a
julgar pela magnificência de suas jóias, acabara de chegar a
Versalhes. Ninguém jamais foi capaz de descobrir de onde viera. Sua
figura era bem proporcionada e graciosa, suas mãos delicadas, seus
pés pequenos, e as pernas bem formadas, realçadas por meias de
seda bem justas. Seu vestuário bem talhado sugeria uma forma de
rara perfeição. Seu sorriso mostrava dentes magníficos, uma
bonita covinha marcava-lhe o queixo, seu cabelo era negro e o olhar
doce e penetrante. E, oh, seus olhos! Jamais vi semelhantes. Ele
parecia ter cerca de quarenta ou quarenta e cinco anos de idade.
Freqüentemente podia-se encontrá-lo nos aposentos particulares
reais, onde tinha admissão irrestrita no início de 1768." . O conde de Saint-Germain era reconhecido como um estudioso e lingüista
eminente da época. Sua habilidade lingüística beirava o
sobrenatural. Ele falava alemão, inglês, italiano, português,
espanhol, francês com sotaque piemontês, grego, latim, sânscrito,
árabe e chinês com tal fluência que em cada país que visitava
era aceito como nativo. "Erudito", escreve um autor,
"falando cada língua civilizada admiravelmente, um grande músico,
um excelente químico, ele desempenhava o papel de prodígio à
perfeição." Até os seus detratores mais impiedosos admitiam que o conde possuía conhecimentos quase
inacreditáveis em cada área do saber. Madame de Pompadour exalta o gênio de Saint-Germain nas seguintes palavras: "Um conhecimento profundo de todas as línguas, antigas e modernas; uma
memória prodigiosa; erudição, da qual podia-se captar vislumbres
entre os caprichos de sua conversa, que sempre era divertida e,
ocasionalmente, muito envolvente; uma habilidade inesgotável em
variar o tom e os assuntos de sua conversa; ser sempre renovado e infundir o inesperado nos discursos mais
triviais faziam dele um interlocutor excelente. Às vezes, ele
contava anedotas da corte de Valois ou de príncipes ainda mais
remotos, com tal precisão em cada detalhe que quase criava a ilusão
de que ele fora testemunha ocular daquilo que narrava. Havia viajado
pelo mundo todo e o rei ouvia interessado as narrativas de suas
viagens pela Ásia e África, e suas histórias sobre as cortes da Rússia,
Turquia e Áustria. Ele parecia ter um conhecimento mais íntimo dos segredos de cada corte do que o próprio charge d'allaires do
rei." O conde era ambidestro a tal ponto que conseguia escrever o mesmo artigo com
as duas mãos simultaneamente. Quando as duas folhas de papel eram
depois sobrepostas e colocadas contra a luz, a escrita de uma folha
cobria exatamente a da outra. Conseguia recitar páginas impressas
após uma única leitura. Para provar que os dois hemisférios de
seu cérebro podiam trabalhar independentemente, escrevia uma carta
de amor com a mão direita e um conjunto de versos místicos com a
esquerda, ambos ao mesmo tempo. Ele também cantava maravilhosamente. Por meio de algo semelhante à telepatia, esta pessoa notável era capaz de
sentir quando sua presença era necessária em alguma cidade ou
estado distante e foi até registrado que ele tinha o hábito
desconcertante de aparecer em seus alojamentos e nos de seus amigos
sem recorrer ao uso convencional da porta. Ele foi, por alguma circunstância curiosa, o patrono das estradas de ferro
e dos navios a vapor. Franz Graeffer, em seu Recoliections 01
Vienna, relata o seguinte incidente na vida do surpreendente
conde: "Saint-Germain foi, gradualmente, adquirindo um ar solene. Durante
alguns segundos, ficou rígido como uma estátua; seus olhos, que
sempre eram expressivos além das palavras, tornaram-se opacos e sem
cor. De repente, porém, seu ser inteiro se reanimou. Esboçou um
gesto com a mão, como que em sinal de despedida, depois disse: 'Estou
partindo (lch scheide). Não me visiteis. Ireis ver-me uma vez mais.
Amanhã à noite partirei. Precisam de mim em Constantinopla, depois
na Inglaterra, para preparar ali duas invenções que tereis no próximo século - trens e navios a vapor.'" Como historiador, o conde possuía um conhecimento preciso de todos os fatos
dos dois mil anos anteriores e, em suas lembranças, descrevia nos mínimos
detalhes os fatos dos séculos precedentes nos quais desempenhara
papéis importantes. "Ele falava de cenas da corte de Francisco
I como se as tivesse visto, descrevendo exatamente a aparência do
rei, imitando sua voz, suas maneiras e sua linguagem - sugerindo o
tempo todo ter sido testemunha ocular. No mesmo estilo, entretinha
sua audiência com histórias agradáveis sobre Luis XIV, e os presenteava com descrições vívidas de lugares e
pessoas." (Ver Ali the Year Round). A maioria dos biógrafos de Saint-Germain menciona seus hábitos peculiares
com relação à alimentação. Era a dieta, declarava ele,
combinada com seu maravilhoso elixir, que constituía o verdadeiro
segredo da longevidade e, embora convidado aos mais suntuosos
banquetes, recusava-se terminantemente a comer qualquer alimento que
não fosse especialmente preparado para ele e de acordo com suas
receitas. Sua alimentação consistia na maior parte em aveia, sêmola
e carne branca de frango. Sabe-se que em raras ocasiões bebeu um
pouco de vinho e sempre tomava elaboradas precauções contra a
possibilidade de contrair resfriado. Freqüentemente convidado para
jantar, dedicava o tempo, durante o qual deveria estar comendo, a
entreter os outros convidados com histórias de magia e feitiçaria,
aventuras fantásticas em lugares remotos e episódios íntimos da
vida dos poderosos. Numa dessas histórias sobre vampiros, Saint-Germain mencionou de forma
despretensiosa que possuía a vara, ou o bastão, com o qual Moisés
fizera brotar água das pedras, acrescentando que havia sido
presenteado na Babilônia, durante o reinado de Ciro, o Grande. Os
memorialistas admitem não saber o que dizer quanto à veracidade
das afirmações do conde. O bom senso da época lhes assegurava que
a maioria dos relatos deveriam estar inseridos num todo maior. Por
outro lado, a informação dada por ele era tão precisa e sua erudição tão transcendente em todos os aspectos, que suas palavras
vinham carregadas de convicção. Numa ocasião, ao relatar uma história sobre suas experiências num tempo
remoto, falhou-lhe a lembrança clara de um detalhe que considerava
relevante. Virou-se para seu pajem e perguntou: "Será que me
enganei, Roger?" O bom homem respondeu no mesmo instante:
"O senhor conde esquece que eu estou com ele há apenas
quinhentos anos. Portanto, não poderia ter estado presente nessa
ocasião. Deve ter sido o meu predecessor." Os menores atos de uma pessoa tão incomum como Saint Germain eram, sem dúvida,
notados meticulosamente. Existem várias informações interessantes
e divertidas relativas à residência que mantinha em Paris. Ele
tinha dois camareiros. O primeiro, Roger, já mencionado, e o
segundo, um parisiense, empregado por conhecer a cidade e outras informações locais úteis. "Além disso, a criadagem consistia em quatro lacaios em uniformes cor
de rapé com galões dourados. Ele alugava uma carruagem a quinhentos francos por mês. Como trocava freqüentemente
de casaco e colete, possuía uma rica e dispendiosa coleção deles, mas nada se aproximava da
magnificência de seus botões, abotoaduras, relógios, anéis,
correntes, diamantes e outras pedras preciosas. Possuía uma grande
quantidade desses objetos e variava a cada semana." Certa vez, ao encontrar-se com Saint-Germain num jantar, o barão Gleichen
teve a oportunidade de focalizar a conversa na Itália e a sorte de
agradar Saint-Germain, que, voltando-se para ele, observou: "Gostei
muito de ti, e te mostrarei uma dúzia de quadros, tais que tu não
viste nada igual na Itália." Segundo as palavras de Gleichen: "De fato, ele quase manteve a palavra, pois os quadros que me mostrou
eram todos marcados pela singularidade ou perfeição, que os
tornava mais interessantes do que muitas obras de primeira linha.
Acima de tudo, havia uma Família Sagrada de Murillo, de beleza
igual à de Raffaello, em Versalhes. Mas ele me mostrou outras
maravilhas - uma grande quantidade de jóias e diamantes coloridos
de tamanho e perfeição extraordinários. Pensei que estivesse
diante dos tesouros da Lâmpada Maravilhosa de Aladim. Dentre outras
pedras preciosas, havia uma opala de tamanho monstruoso, e uma
safira branca (?) do tamanho de um ovo, que, por sua luminosidade,
ofuscava todas as pedras comparadas com ela. Eu me gabo de ser um
conhecedor de pedras preciosas, mas posso afirmar que era impossível detectar qualquer
razão para duvidar da autenticidade dessas jóias, ademais que não
estavam montadas." Como crítico de arte, Saint-Germain podia detectar instantaneamente as
falsificações mais bem forjadas. Ele mesmo pintava bastante,
conseguindo uma cor incrivelmente luminosa. Tal era o seu sucesso
que Vanloo, o artista francês, implorou-lhe que divulgasse o
segredo de seus pigmentos, mas ele recusou. Acredita-se que ele conseguiu esses resultados espantosos ao pintar jóias
misturando madrepérola em pó com suas tintas. Não se sabe o que
aconteceu com sua coleção inestimável de pinturas e jóias após
sua morte ou desaparecimento. É possível que o conhecimento de química do conde
compreendesse a manufatura de tinta fosforescente como a que hoje é
usada nos mostradores de relógio. Suas habilidades de químico eram
tão profundas que conseguia remover defeitos de diamantes e
esmeraldas, façanha essa que, de fato, realizou a pedido de Luís
XV em 1757. Pedras de valor comparativamente pequeno eram
transformadas em pedras preciosas de primeira água depois de
permanecer com ele por um curto período de tempo. Caso as afirmações
de seus amigos sejam confiáveis, ele realizava este experimento
freqüentemente. Há também uma história popular que dizia que
colocava pedras preciosas no valor de milhares de dólares junto aos
cartões com os nomes dos convidados indicando o seu lugar na mesa nos banquetes que
promovia. Foi na corte de Versalhes que o conde de Saint-Germain encontrou-se frente a
frente com a condessa de Gergy, já em idade avançada. Ao ver o célebre
mago, a velha senhora recuou espantada e ocorreu entre os dois a
seguinte conversa, bem autenticada por documentação. - Há cinqüenta anos - disse a condessa - eu era embaixatriz em Veneza e me
lembro ter-vos visto lá com a mesma aparência de agora, talvez um
pouco mais maduro, pois rejuvenescestes desde então. Com uma profunda mesura, o conde respondeu com dignidade: - Sempre me considerei feliz por ser capaz de me fazer agradável para as
senhoras. Madame de Gergy então continuou: - Naquela época vós vos chamáveis marquês Balletti. O conde fez outra mesura e respondeu: - E a memória da condessa Gergy ainda é tão boa quanto há cinqüenta
anos. A condessa sorriu. - Isso eu devo a um elixir que me destes no nosso primeiro encontro. Sois
realmente um homem extraordinário. Saint-Germain assumiu uma
expressão grave. - Esse marquês Balletti tinha uma má reputação? perguntou. - Ao contrário - respondeu a condessa -, ele era muito bem aceito na
sociedade. O conde encolheu os ombros expressivamente, dizendo: - Bem, como ninguém se queixa dele, estou disposto a adotá-Io como meu avô. A condessa d'Adhemar estava presente durante toda a conversa e atesta a
exatidão de todos os detalhes. Madame du Hausset, dama de companhia de madame de Pompadour, escreve sobre o
espantoso homem que costumava visitar sua senhora. Ela registra uma
conversa que aconteceu entre Pompadour e Saint-Germain: - É verdade, madame, que conheci madame de Gergy há muito tempo - afirmou
o conde em voz baixa. - Mas, de acordo com isso - respondeu a marquesa – vós deveis agora ter
mais de cem anos de idade. - Isso não é impossível - retrucou enigmaticamente o conde, com um leve
sorriso - mas admito que é mais possível que essa senhora, por
quem tenho infinito respeito, esteja falando bobagens. Respostas como essa levaram Gustave Bord a escrever sobre Saint-Germain que:
"Ele permite que paire certo mistério sobre ele, um mistério
que desperta curiosidade e simpatia. Sendo um virtuoso na arte de
despistar, ele nada diz que seja inverdade, C..) Tem o raro dom de
permanecer em silêncio e se beneficiar disso." (Ver La
Franc-Maçonnerie en France, etc.) Mas, voltando à história de madame du Hausset. - Destes a madame de Gergy - pressionou Madame Pompadour - um elixir de
efeitos surpreendentes. Ela afirma que, durante muito tempo, parecia ter não mais de vinte e quatro
anos de idade. Por que não dais um pouco disso ao rei? . Saint-Germain deixou uma expressão de terror espalhar-se por seu rosto: - Ah! Madame, eu seria verdadeiramente louco se tivesse a idéia de dar ao
rei uma droga desconhecida! O conde estava em termos bem amigáveis com Luís XV, Com quem mantinha
longas discussões sobre o tema de pedras preciosas, sua fabricação
e purificação. Luís ficava espantado e entusiasmado. Jamais urna
pessoa tão extraordinária havia pisado os recintos sagrados de
Versalhes. A corte toda estava alvoroçada e milagres eram a ordem
do dia. Cortesãos de fortunas exauridas vislumbravam a multiplicação
mágica de seu ouro e senhoras de idade incerta sonhavam com a volta
da juventude e da atração por meio dos fabulosos elixires do homem
misterioso. É fácil entender corno um personagem tão fascinante
podia aliviar o tédio de um rei que havia passado sua vida corno mártir
de costumes reais e privado dos prazeres do trabalho honesto devido
à sua posição. Graças a isso, os soberanos se tornam vítimas
dos modismos, e o próprio Luís praticava superficialmente a
alquimia e outras artes ocultas. É verdade que o rei era apenas um
diletante, cuja vontade não era forte o bastante para fazê-Io ater-se
a um objetivo de longo prazo, mas Saint-Germain era atraente, sob o
ponto de vista de várias qualidades, para a natureza real. O
embasamento de seu conhecimento, a habilidade com a qual reunia os
fatos para o entretenimento e a edificação de suas audiências, o
mistério que cercava suas aparições e desaparecimentos, sua habilidade consumada tanto
de crítico quanto de técnico nas artes e nas ciências, sem
mencionar suas jóias e sua fortuna, despertavam a estima do rei. Se
Luís tivesse se beneficiado da sabedoria e dos avisos proféticos
do misterioso conde, o Reino do Terror poderia ter sido evitado.
Saint-Germain sempre foi o protetor, jamais o protegido. Luís havia
encontrado o diplomata sem mácula. Madame de Pompadour escreve: "Ele enriqueceu o gabinete do rei com seus quadros de Velasquez e
Murillo, e presenteou ao marquês as mais inestimáveis e belas
pedras preciosas. Pois esse homem singular passava por fabulosamente
rico e distribuía diamantes e jóias com liberalidade espantosa." Urna evidência não menos admirável do gênio do conde era sua compreensão
penetrante da situação política da Europa, e a habilidade
evidente com a qual conseguia a confiança de seus adversários
diplomáticos. Em todas as ocasiões, tinha credenciais que lhe
davam entrada nos mais exclusivos círculos da nobreza européia.
Durante o reinado de Pedro, o Grande, Saint-Germain estava na Rússia,
e entre os anos 1737 e 1742, na corte do Xá da Pérsia corno hóspede
honrado. Sobre o terna de suas andanças, Una Birch escreve o
seguinte: "As viagens do conde de Saint-Germain cobriam um período longo, de
muitos anos, e urna grande variedade de países. Ele era conhecido e
respeitado da Pérsia à França, e de Calcutá à Roma. Horace
Walpole falou com ele em Londres em 1745. Clive o conheceu na Índia
em 1756. Madame d'Adhemar afirma que o encontrou em Paris em 1789,
cinco anos depois de sua suposta morte, enquanto outras pessoas
afirmam ter tido conversas com ele no início do século XIX. Ele
estava em termos familiares e íntimos com as cabeças coroadas da Europa e era amigo honrado de muitas pessoas distintas de todas
as nacionalidades. Ele até é mencionado nas memórias e cartas da
época, e sempre corno um homem misterioso. Frederico o Grande,
Voltaire, madame de Pompadour, Rousseau, Chatham e Walpole, todos
que o conheceram pessoalmente, rivalizavam entre si na curiosidade
sobre suas origens. Durante as muitas décadas nas quais ele esteve
diante do mundo, ninguém conseguiu descobrir porque apareceu corno
agente jacobita em Londres, conspirador em Petersburgo, alquimista e conhecedor de quadros em Paris, ou general russo
em Nápoles. (...) De vez em quando a cortina que oculta suas ações
é afastada e nos é permitido vê-lo tocando violino na sala de música
em Versalhes, trocando idéias com Horace Walpole em Londres,
sentado na biblioteca de Frederico o Grande em Berlirn, ou
conduzindo reuniões de iluministas nas cavernas ao longo do
Reno." (Ver The Nineteenth Century, Janeiro, 1908.) No campo da música, Saint-Germain foi igualmente um mestre. Durante sua
estada em Versalhes, dava concertos de violino e, ao menos numa
ocasião durante um vida cheia de eventos, regeu urna orquestra sinfônica
sem a partitura. Em Paris, Saint-Germain foi o diplomata e o
alquimista, em Londres foi o músico. "Ele deixou atrás de si um registro musical para lembrar os ingleses
de sua breve estada neste país. Muitas composições suas foram
publicadas por Walsh, na Catherine Street, no Strand, e sua primeira
canção inglesa, Oh, wouldst thou know what sacred charms foi
publicada ainda durante sua primeira visita a Londres; ao deixar
esta cidade, confiou a Walsh outras composições, tais corno jove,
when he saw, e as árias de sua pequena ópera L'inconstanza
Delusa, que foram publicadas durante sua ausência da Inglaterra.
Quando voltou, em 1760, deu ao mundo muitas novas canções,
seguidas em 1780 por um conjunto de solos para violino. Era um
artista capaz e prolífico, e atraiu muita atenção dos
apreciadores, tanto corno compositor, quanto corno intérprete." Um velho jornal inglês, The London Chronicle, na edição de junho,
1760, contém a seguinte anedota: "Com relação à música, ele não só tocava corno compunha, fazendo
ambas as coisas com elevado bom gosto. Ora, suas próprias idéias
eram ajustadas à arte, e nas ocasiões que não tinham relação
com a música, encontrava maneiras de se expressar em termos
figurados, deduzidos desta ciência. Não poderia haver urna maneira
mais artística de mostrar sua atenção ao assunto. Lembro-me de um
incidente que ficou profundamente marcado na minha memória. Tive a
honra de estar numa reunião de lady..., que acrescentava a muitas outras grandes virtudes um gosto tão delicado pela música, que foi
eleita para ser juíza numa competição de mestres. Esse
estrangeiro devia participar e, ao final da noite, chegou com sua
costumeira conduta livre e bem educada, mas com mais pressa do que o
usual, e com os dedos tampando os ouvidos. Posso imaginar que na maioria dos homens isso seria considerado urna atitude
indelicada, e até mesmo mal educada, mas seus modos tornavam tudo
agradável. Tinham esvaziado urna carreta de pedras à frente da porta, para consertar a pavimentação. Jogou-se numa cadeira e, quando a
senhora perguntou qual era o problema, apontou para o lugar e disse:
'Estou entontecido por urna carreta cheia de desarmonia'." Em suas memórias, o aventureiro italiano Jacques de Casanova de Seingalt
faz numerosas referências a seu relacionamento com Saint-Germain.
Casanova admite, a contragosto, que o conde era um iniciado em artes
mágicas, um lingüista habilidoso, músico e químico que ganhou o
favor das senhoras da corte francesa não só pelos ares gerais de
mistério que o envolviam, corno também por sua habilidade suprema
em preparar pigmentos e cosméticos com os quais lhes preservava pelo menos urna sombra
da fugaz juventude. Casanova descreve um encontro com Saint-Germain que aconteceu na Bélgica
sob as circunstâncias mais incomuns. Chegando a Tournay, ficou
surpreso ao ver alguns pagens conduzindo cavalos fogosos para cima e
para baixo. Perguntou a quem pertenciam esses belos animais e lhe
disseram: "Ao conde de Saint-Germain, o iniciado, que está
aqui há um mês e jamais sai. Todos que passam pelo lugar querem vê-lo,
mas ele não aparece para ninguém." Isso foi o suficiente para
atiçar a curiosidade de Casanova, que escreveu pedindo um encontro.
Ele recebeu a seguinte resposta: "A seriedade de minha ocupação
me compele a excluir todos, mas em vosso caso farei urna exceção.
Vinde quando quiserdes e sereis admitido. Não precisais mencionar
meu nome nem o vosso. Não vos convido a partilhar de minha refeição,
pois o meu alimento não é adequado para os outros, principalmente para vós, se o
vosso apetite continua o mesmo de antes." As nove horas, Casanova chegou e descobriu que o conde havIa deixado crescer
urna barba de cinco centímetros de comprimento. Conversando com
Casanova, o conde explicou sua presença na Bélgica dizendo que o
conde Cobenzl, embaixador austríaco em Bruxelas, desejava
estabelecer uma fábrica de chapéus e que ele estava cuidando dos
detalhes. Ao dizer a Saint Germain que estava sofrendo de uma doença
aguda, Casanova foi convidado a ficar para tratamento, dizendo o
conde que prepararia quinze pílulas que em três dias restituiriam ao italiano a saúde perfeita. Casanova escreve: "Então ele me mostrou seu magistrum, que chamou de athoeter.
Era um líquido branco contido num frasco bem fechado. Ele me
disse que este líquido era o espírito universal da Natureza e que
se retirasse a cera da tampa, o mínimo que fosse, o conteúdo todo desapareceria. Supliquei-lhe que fizesse
a experiência. Com isso, ele me deu o frasco e o alfinete e eu
mesmo furei a cera. O frasco ficou vazio." Casanova, sendo ele mesmo um tanto falastrão, duvidava de todos. Portanto,
recusou-se a permitir que Saint-Germain tratasse sua doença. Não
podia negar, porém, que Saint-Germain era um químico de
conhecimentos extraordinários, cujas realizações eram espantosas,
se não práticas. O iniciado recusou-se a revelar o propósito para
o qual esses experimentos químicos se destinavam, afirmando que
essa informação não podia ser dada. Casanova relata ainda um incidente no qual Saint-Germain transmutou uma
moeda de cobre em uma moeda de ouro puro. Sendo um São Tomé,
Casanova declarou ter certeza de que Saint Germain havia substituído
uma moeda pela outra. Intimou o conde, que respondeu: "Aqueles
que são capazes de guardar dúvidas sobre a minha obra não merecem
falar comigo", e com uma mesura convidou o italiano a se
retirar. Esta foi a última vez que Casanova viu Saint-Germain. Há outra evidência de que o célebre conde possuía o pó alquímico com o
qual é possível transmutar metais básicos em ouro. De fato,
realizou este feito em pelo menos duas ocasiões, como atestam os
escritos de contemporâneos. O marquês de Valbelle, ao visitar
Saint-Germain em seu laboratório, encontrou o alquimista ocupado com seus fornos. Este pediu ao marquês uma moeda de
prata de seis francos e, cobrindo-a com uma substância negra, a expôs
ao calor de uma pequena chama ou forno. M. de Valbelle viu a moeda
mudar de cor até um vermelho vivo. Alguns minutos depois, quando
esfriou um pouco, o iniciado tirou-a da vasilha de resfriamento e
devolveu-a ao marquês. Essa peça não era mais de prata, mas do
mais puro ouro. A transmutação fora completa. A condessa d'Adhemar
teve a posse dessa moeda até 1786, quando foi
roubada de sua escrivaninha. Um autor conta-nos que "Saint-Germain sempre atribuiu seu conhecimento
da química oculta à sua estada na Ásia. Em 1755, ele foi para o
Oriente pela segunda vez e, escrevendo ao conde von Lamberg, afirmou:
'Devo meu conhecimento de fundir pedras preciosas à minha segunda
viagem à Índia." Existem demasiados casos autênticos de transmutação metálica para que não
se possa condenar Saint-Germain como charlatão por causa dessa façanha.
A medalha Leopold-Hoffman, ainda em posse dessa família, é o
exemplo mais notório da transmutação de metais já registrado.
Dois terços desta medalha foram transformados em ouro pelo monge
Wenzel Seiler, deixando o equilíbrio-da prata que era seu estado
original. Neste caso, a fraude era impossível, já que existia apenas uma cópia da
medalha. A facilidade com que condenamos, como fraudulenta e irreal,
qualquer coisa que transcenda nosso entendimento fez recair
injustificada calúnia sobre nomes e memórias de muitas pessoas
ilustres. A crença popular de que o conde de Saint-Germain não passava de um
aventureiro não é sustentada por um partícula sequer de evidência.
Nunca detectaram qualquer subterfúgio nele e jamais ele traiu,
mesmo num mínimo grau, a confiança que lhe dedicavam. Sua grande fortuna - pois
sempre teve abundância dos bens deste mundo - não era tomada
daqueles com quem teve contato. Todos os esforços para determinar a
fonte e o tamanho de sua fortuna foram vãos. Ele não usava banco
nem banqueiro, no entanto movia-se numa esfera de crédito ilimitado,
que não era questionado pelos outros e do qual ele não abusava. Referindo-se aos ataques ao seu caráter, H. P. Blavatsky escreveu em The
Theosophist, de março de 1881: "Será que charlatões desfrutam da confiança e admiração dos
estadistas e nobres mais inteligentes da Europa durante longos anos,
e nem mesmo à sua morte mostram o que quer que seja para provar que
não eram merecedores dessa imagem? Alguns enciclopedistas (ver New
American Cyclopedia, xiv. 266) dizem: 'Supõe-se que ele foi
empregado durante a maior parte de sua vida como espião nas
cortes nas quais morou.' Mas qual é a evidência na qual se baseia essa suposição? Será que alguém
a encontrou em quaisquer documentos estatais nos arquivos secretos
de uma dessas cortes? Nenhuma palavra, nenhum fato para construir
essa calúnia jamais foram encontrados. É simplesmente uma mentira
mal-intencionada. O tratamento que esse grande homem, esse aluno dos hierofantes hindus e egípcios,
esse perito na sabedoria secreta do Oriente, teve por parte dos
escritores ocidentais é um estigma sobre a natureza humana." Nada se sabe a respeito da fonte do conhecimento oculto do conde de Saint-Germain.
Com toda a certeza, ele não só demonstrava possuir uma vasta
sabedoria, mas também deu muitos exemplos corroborando suas
reivindicações. Quando lhe perguntaram uma vez sobre ele mesmo,
respondeu que seu pai era a Doutrina Secreta e sua mãe, os Mistérios.
Saint-Germain tinha total domínio dos princípios do esoterismo
oriental. Praticava o sistema oriental de meditação e concentração,
tendo sido visto, em várias ocasiões, sentado com os pés cruzados e mãos unidas na posição de um
Buda hindu. Possuía um retiro no coração do Himalaia para onde se
retirava, periodicamente, do mundo. Em certa ocasião, declarou que
permaneceria na Índia por oitenta e cinco anos e depois retomaria
à cena de seus trabalhos na Europa. Em diversas ocasiões, admitiu que obedecia as ordens de um poder mais alto
e maior que ele mesmo. O que não disse era que este poder superior
era a Escola de Mistérios que o enviara para o mundo a fim de realizar uma missão específica. O conde de Saint-Germain e sir Francis
Bacon são os dois maiores emissários enviados ao mundo pela
Irmandade Secreta nos últimos mil anos. Os princípios disseminados pelo conde de Saint-Germain eram sem dúvida de
origem rosacruz e permeados pelas doutrinas dos gnósticos. O
conde foi o espírito impulsor do movimento rosacruz durante o século
XVIII - possivelmente, o verdadeiro chefe dessa ordem - e
suspeita-se que foi o grande poder por trás da Revolução Francesa.
Existe razão também para acreditar que o famoso romance de lorde
Bulwer-Lytton, Zanoni, seja na verdade o relato da vida e das
atividades de Saint-Germain. Geralmente, é considerado como uma
figura importante nas primeiras atividades dos maçons. Entretanto,
foram feitas várias tentativas no sentido de desacreditar sua
afiliação maçônica, por motivos que ainda permanecem ocultos.
Maags de Londres estão oferecendo à venda um livrinho maçônico no qual aparecem
as assinaturas do conde de Saint-Germain e do marquês de Lafayette.
Ainda será estabelecido, além de qualquer dúvida, que o conde foi
maçom e templário. De fato, as memórias de Cagliostro contêm uma
afirmação direta de sua própria iniciação na ordem dos Cavaleiros Templários pelas mãos de Saint-Germain.
Muitos personagens ilustres com quem o conde se associava eram maçons
de altos graus, e foram preservadas suficientes anotações com
respeito às discussões que mantiveram, para provar que era um
mestre do conhecimento maçom. Madame d'Adhemar que preservou tantas histórias da vida do "homem
maravilha", copiou de uma das cartas de SaintGermain os
seguintes versos proféticos pertinentes à queda do Império Francês: "O tempo se aproxima rapidamente quando a França
imprudente, Cercada pela desgraça que ela poderia ter-se poupado, Evocará um inferno tal qual Dante pintou. Veremos cair cetro, turíbulo, balança, Torres e brasões, até a bandeira branca. Grandes rios de sangue correm em cada cidade; Somente soluços ouço e exílios vejo. De todos os lados a discórdia civil troveja alto E emitindo gritos, de todas os lados a virtude foge Enquanto da Assembléia votos de morte se erguem. Grande Deus, quem pode responder aos juizes assassinos? E sobre que augustas frontes eu vejo descerem as espadas!” Maria Antonieta ficou muito perturbada pela natureza medonha das profecias e
perguntou a madame d'Adhemar sua opinião quanto ao seu significado.
Madame respondeu: "São desoladoras mas, certamente, não podem
afetar Vossa Majestade." Madame d'Adhemar também relata um incidente dramático. Saint-Germain
ofereceu-se para encontrar a boa senhora na Igreja de Recollets por
volta da missa das oito horas. Madame foi ao lugar de encontro numa liteira e registrou a seguinte conversa entre ela e o misterioso
iniciado: Saint-Germain: Sou Cassandra, profetisa do mal... Madame, aquele que semeia vento colhe tempestade... eu nada posso fazer;
minhas mãos estão atadas por alguém mais forte do que eu. Madame: - Ireis ver a rainha? Saint-Germain: - Não. Ela está condenada. Madame: - Condenada a quê? Saint-Germain: - Morte. Madame: - E vós - vós também? Saint-Germain: - Sim - como Cazotte -. Voltai ao Palácio; dizei à rainha
que se cuide, que este dia será fatal para ela. Madame: - Mas o senhor de Lafayette... Saint-Germain: - Um balão inflado de vento. Agora mesmo estão decidindo o
que fazer com ele, se será instrumento ou vítima. Até o meio-dia
tudo será decidido. A hora do descanso acabou, e os decretos da
Providência devem ser cumpridos. Madame: - O que eles querem? Saint-Germain: - A ruína total dos Bourbons. Eles os expulsarão de todos
os tronos que ocupam e, em menos de um século, voltarão em todos
os seus diferentes ramos para a classe de simples indivíduos. A
França, como reino, república, império e governo misturado será
atormentada, agitada, rasgada. Das mãos dos tiranos de classe ela
passará para aqueles que são ambiciosos e destituídos de mérito. O conde de Saint-Germain desapareceu do palco do misticismo francês tão
repentinamente e inexplicavelmente como havia aparecido. Nada se
sabe com certeza depois desse desaparecimento. Dizem os
transcendentalistas que ele se retirou para a ordem secreta que o
enviara para o mundo com um propósito específico e peculiar. Tendo realizado essa missão, desapareceu. Das Memoirs
de Mon Temps, de Charles, Landgrave (nobre proprietário)
de Hesse CasseI, obtemos vários detalhes com relação aos últimos
anos antes da morte ou desaparecimento do iniciado húngaro. Charles
tinha profundo interesse no oculto e nos mistérios maçons, e uma
sociedade secreta, da qual era o espírito propulsor, realizava
reuniões ocasionais em sua propriedade. Os propósitos desta
organização eram semelhantes, se não idênticos, ao ritual egípcio
de Cagliostro. De fato, depois de estudar os fragmentos deixados pelo Landgrave,
a alegação de Cagliostro de que tinha sido iniciado na maçonaria
egípcia por Saint-Germain fica comprovada além de qualquer dúvida
razoável. O "Homem Maravilha" esteve presente em pelo
menos algumas dessas reuniões secretas e de todos que conheceu
durante a vida, confiava mais no príncipe Charles do que em
qualquer outro homem. Os últimos anos da vida conhecida de Saint-Germain
foram, portanto, divididos entre sua pesquisa experimental em
alquimia com Charles de Hesse e a Escola de Misterios de Louisenlund,
em Schleswig, onde se discutiam problemas filosóficos e políticos. De acordo com a tradição popular, foi na propriedade do príncipe Charles
que Saint-Germain finalmente morreu numa data divulgada como sendo
1784. As estranhas circunstâncias ligadas ao seu falecimento
levam-nos a suspeitar de que foi um funeral falso, semelhante ao
dado ao iniciado inglês, lorde Bacon. Observou-se que "Grande incerteza e imprecisão cercam seus últimos
dias, pois não se pode confiar no anúncio da morte de um iluminado
feito por outro iluminado, pois, como bem se sabe, todos os meios
para assegurar o fim eram justificáveis em seu código, e pode ter
sido do interesse da sociedade que Saint-Germain fosse considerado
morto." H. P. Blavatsky observa: "Não é absurdo supor que, se ele realmente morreu naquela época e
lugar mencionados, teria sido colocado na terra sem pompa e cerimônia,
sem a supervisão oficial e o registro na polícia que atendem os
funerais de homens de sua classe e notoriedade? Onde estão estes
dados? Ele desapareceu da vista pública há mais de um século, no
entanto, nenhum livro de memórias os contém. Um homem que viveu
assim na luz total da publicidade não poderia ter desaparecido, se
realmente tivesse morrido naquele tempo e lugar, sem deixar pistas. Além do mais, temos a alegada prova positiva de que ele
estava vivo vários anos depois de 1784. Dizem que teve uma conferência
particular muito importante com a Imperatriz da Rússia em 1785 ou
1786, e que apareceu à princesa de Lambelle quando ela estava
diante do tribunal, poucos minutos antes que fosse derrubada com uma
barra de ferro, e um aprendiz de açougueiro decepasse sua cabeça;
e para Jeanne Dubatry, amante de Luís xv, quando ela esperava no
cadafalso, em Paris, o golpe da guilhotina nos Dias do Terror em 1793." Deve-se acrescentar que o
conde de Chalons, quando voltou de uma embaixada a Veneza em 1788,
disse que havia conversado com o conde de Saint-Germain na praça de
São Marcos, na noite anterior à sua partida. A condessa d'Adhemar
também o viu e falou com ele depois de sua presumida morte, e a
Enciclopédia Britânica nota que dizem que ele participou de uma
conferência maçônica vários anos depois de relatada sua morte.
Na conclusão de um artigo sobre a identidade do inescrutável conde,
Andrew Lang escreve: "Será que Saint-Germain realmente morreu
no palácio do príncipe Charles de Hesse por volta de 178G-85? Será
que ele, por outro lado, fugiu da prisão francesa onde Grosley
acreditou tê-Io visto, durante a Revolução? Será que lorde
Lytton o conheceu por volta de 1860? (...) Será ele o misterioso
conselheiro moscovita do Dalai Lama? Quem sabe? Ele é o fogo fatuo dos biógrafos do século XVIII." (Ver
Historical Mysteries.) O verdadeiro propósito pelo qual Saint-Germain labutou deve continuar
obscuro até a aurora de uma nova era. Homero se refere à Corrente
Dourada com a qual os deuses conspiraram amarrar a terra ao pináculo
do Olimpo. Em cada era aparecem algumas poucas pessoas cujas
palavras e ações demonstram claramente que são de uma ordem
diferente do resto da sociedade. A humanidade é guiada através de
períodos críticos no Autor: Manly Palmer Hall Bibliografia: . La Très Saint Trinosofie by Comte de Saint Germain . Santíssima Trinosofia comentário de Manly Palmer Hall
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